A agenda do projeto “Vozes dos Manguezais” nesta última terça-feira (09), marcou um passo decisivo para a restauração e valorização dos manguezais de Guarapari. Em um dia repleto de apresentações, diálogos e visitas técnicas, pesquisadores, estudantes e instituições de ensino e meio ambiente se reuniram para fortalecer ações de educação, ciência e mobilização comunitária — elementos centrais para transformar o futuro dos manguezais do município.
O encontro integra o projeto “Vozes dos Manguezais”, promovido pelo pesquisador,Prof. Marlon Carlos França, pós-doutor em ciências e oceanografia, no Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Piúma. A programação incluiu comunicações sobre impactos ambientais, percepções sociais, vivências em viveiros, experiências acadêmicas e visitas guiadas ao manguezal e ao Laboratório de Oceanografia e Clima (LAOC).

A voz da consciência: comunicação como motor da restauração de manguezais
Em suas declarações sobre o projeto “Vozes dos Manguezais de Guarapari (ES)”, Dhyovaine Nascimento, especialista em comunicação cultural-ambiental e vice diretor e diretor de comunicação do Instituto Reritiba, enfatizou o papel fundamental da comunicação para o sucesso da restauração ecológica, que vai além da ciência e da biotecnologia.
A abordagem de Dhyovaine Nascimento visa traduzir o conhecimento científico em uma linguagem acessível para a população.
• Tradução do conhecimento: O objetivo principal é “traduzir o que está sendo feito no manguezal para a linguagem do povo, gerando identificação e um senso de pertencimento”.
• Engajamento social: A transparência na divulgação das etapas, como o cultivo e o plantio na plataforma digital oficial do projeto (reritiba.com/vozesdosmanguezais), não só garante o apoio de parceiros, mas transforma os moradores locais em verdadeiros protetores e guardiões do ecossistema.
• Força impulsionadora: Nascimento afirma que a comunicação “não é um acessório, mas a força motriz que leva o conhecimento do viveiro para a mesa de discussão das famílias”.
• Legado de zeladoria: Ao manter a comunidade informada e engajada, desde a fase inicial de germinação na RDS Papagaio até o plantio em Perocão, o projeto estabelece um legado de zeladoria, no qual a população se torna a principal guardiã da renovação do manguezal.
O diretor de comunicação salienta que a informação processada de forma eficiente atua como um elo entre os esforços especializados dos biólogos e a necessidade da comunidade de Guarapari e Anchieta de compreender e preservar seus recursos naturais.

Percepção sociocultural: vínculo afetivo é chave para a preservação
Durante o evento, o antropólogo Márcio Figueira, responsável pelos estudos de percepção sociocultural dos manguezais, junto com Marcella Tavares e Clayton de Almeida, apresentou os primeiros resultados de um levantamento inédito sobre como a população de Guarapari percebe e se relaciona com esse ecossistema.
Ele explicou que a equipe iniciou os estudos com um evento-teste, aplicando um questionário a estudantes do IFES Guarapari e seus familiares. O objetivo foi contemplar uma diversidade de perfis — idade, formação, tempo e local de moradia — para observar como diferentes grupos vivenciam o manguezal.
Segundo Márcio:
“Nós elaboramos um questionário com uma diversidade de perguntas para colher a percepção sobre os manguezais na população de Guarapari. Começamos pelos estudantes e seus familiares, incluindo pessoas com diferentes formações e tempos de vivência no município. Já conseguimos visualizar que a relação de vivência e o vínculo emocional e afetivo com o mangue são elementos fundamentais para sua preservação.”
Ao comentar os primeiros dados, o antropólogo destacou um contraste entre aspectos negativos e positivos identificados:
Impacto negativo inicial:
“O principal ponto negativo é o distanciamento das pessoas. O mangue, em geral, é um lugar que muitos veem de longe, passam rápido, ou foram apenas uma vez, sem uma relação direta. E temos percebido que essa relação direta — essa vivência — é fundamental.”
Ponto positivo observado:
“Em locais onde já existe desenvolvimento institucional, como reservas de desenvolvimento sustentável, a visualização e o reconhecimento do mangue são muito maiores. Isso mostra que o caminho passa por identificar e fortalecer unidades de conservação adequadas ao território, sem excluir as comunidades, mas envolvendo-as de maneira efetiva.”

Da Guiné-Bissau ao Espírito Santo: uma experiência transformadora
Outro destaque do dia foi o relato do estudante Paulino Luiz Botan, natural da Guiné-Bissau e hoje cursando o 2º semestre de Engenharia de Pesca no IFES – Campus Piúma. Sua fala emocionou os participantes ao revelar uma trajetória marcada por descobertas pessoais e acadêmicas.
Ao resumir sua experiência, Paulino contou como o evento marcou a primeira vez em que teve contato direto com propágulos — estruturas essenciais para a regeneração dos manguezais:
“A minha experiência tá sendo muito boa, porque eu estou entendendo qual é a importância dessas propágulos, que fazem parte do manguezal e que eu nunca tinha sabido. Acredito que levar este conhecimento adiante pode ajudar pessoas que, como eu, só viam o manguezal de longe e não sabiam sua importância.”
Ele também comparou a vivência atual com a realidade do seu país:
“Na Guiné-Bissau tem manguezais, mas eu nunca tinha tocado. Era algo distante. Vim ao Brasil para estudar aquicultura, depois me identifiquei com a Engenharia de Pesca. Muitos achavam que a engenharia de pesca tratava apenas de peixes, mas aqui percebi que é uma área muito ampla. Estou gostando muito dessa área do manguezal, que é fundamental pra vida humana.”

Educação, ciência e engajamento comunitário
A programação incluiu ainda debates sobre comunicação e impactos, relatos de trabalho, visitas técnicas e discussões sobre o papel dos viveiros na produção de mudas para restaurar áreas degradadas. A mensagem central do dia reforçou que a restauração dos manguezais depende tanto da ciência quanto da participação social — e que iniciativas como esta estão criando novas pontes entre comunidades, pesquisadores e instituições.
O projeto segue com novas atividades e ações de campo ao longo de 2025, fortalecendo uma agenda de conservação que já começa a produzir resultados concretos para os manguezais de Guarapari.
O Espírito Santo está na vanguarda da sustentabilidade com o lançamento e apoio a projetos que visam a recuperação ecológica dos seus manguezais. O Subsecretário de Estado de Fomento de Negócios Sustentáveis e Investimentos de Impacto, Ramon Moreira de Paula, destacou a importância de uma iniciativa em curso, o Projeto Vozes dos Manguezais, concebido no IFES Campus Piúma pelo pesquisador Dr. Marlon Carlos França, Doutor em Oceanografia.
Ramon Moreira de Paula sublinhou que a recuperação dos manguezais capixabas é um foco de investimento e faz parte de um conjunto mais amplo de ações. Ele expressou grande satisfação com a materialização do projeto:
“A recuperação ecológica dos manguezais capixabas é um dos investimentos do Governo do Espirito Santo. Estamos aqui com um dos projetos que foi contemplado, escrito pelo professor Marlon, do IFES de Piúma. Nós dealizamos lá atrás, faz parte de um conjunto de ações pra gente recuperar os manguezais capixabas.”
O Subsecretário frisou que o sucesso e a beleza da iniciativa residem na sua execução e na colaboração interinstitucional:
“Um dos aspectos mais notáveis do projeto é o seu reconhecimento além das fronteiras estaduais, demonstrando a excelência da pesquisa capixaba, já tem parceiros, inclusive locais, estaduais e nacionais e internacionais. O projeto foi um dos selecionados também na COP, das boas iniciativas.”
Em complemento, Moreira de Paula celebrou a materialização da parceria:
“O projeto ‘Vozes dos Manguezais’ reflete a importância do trabalho que a secretaria vem desenvolvendo, e agora a gente vê a ação, de fato, da equipe de uma instituição de ensino, pesquisa, de tecnologia, junto com a comunidade, poder ter a oportunidade de envolver a comunidade e recompor esse ambiente tão importante para a biodiversidade marinha e costeira.”

Engajamento comunitário é o pilar central do projeto “Vozes dos Manguezais”
O pesquisador Marlon Carlos França detalhou que a gênese do “Vozes dos Manguezais” está intimamente ligada às necessidades e aos anseios da própria população que vive no entorno desses ecossistemas. A iniciativa é um modelo de construção colaborativa e participação ativa:
“O projeto, ele nasce a partir de uma demanda da própria comunidade. Porque, antes mesmo de escrever o projeto, o que nós fizemos? Fizemos visitas nas comunidades, ouvimos, escutamos os anseios da comunidade. E aí voltamos pra dentro da instituição, acompanhamos os editais e começamos essa construção colaborativa, envolvendo parceiros públicos e parceiros privados…”
Os objetivos são duplos: ecológico e social, visando a sustentabilidade integral:
“… a fim de atender essa demanda, que visa recolonizar os efluentes de manguezais impactados, e que visa promover também a geração de renda para as pessoas.”
É algo maravilhoso, porque isso reflete a importância do trabalho que a secretaria vem desenvolvendo, e agora a gente vê a ação, de fato, da equipe de uma instituição de ensino, pesquisa, de tecnologia, junto com a comunidade, poder ter a oportunidade de envolver a comunidade e recompor esse ambiente tão importante para a biodiversidade marinha e costeira.”








