Água em Perigo: Ações e Soluções para Garantir um Futuro Sustentável

Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)

O Espírito Santo e o Brasil estão vivendo um momento crítico para seu clima e sua biodiversidade. Queimadas, seca e falta de água são problemas que se combinam e criam uma situação grave, além de ocasionar doenças respiratórias na população e ameaçar a flora e a fauna de um dos maiores santuários da mata atlântica.

O governador Renato Casagrande, no dia da Independência (07), decretou emergência climática por conta da seca que está atingindo o Espírito Santo Em meio à crise e estado de emergência, o cuidado com áreas florestais e flora ribeirinha, além da preservação de rios e lagoas do ES é imprescindível para proteger os recursos do nosso estado e seus habitantes.

O Espírito Santo conta com diversas lagoas que desempenham um papel vital na manutenção da biodiversidade e no equilíbrio hidrológico. Em tempos de seca, essas lagoas funcionam como reservatórios naturais, armazenando água durante os períodos de chuva e liberando-a gradualmente durante a estiagem. Contudo, muitas delas sofrem com a poluição, o descarte irregular de resíduos e a diminuição de suas áreas de captação de água devido à urbanização e à agricultura intensiva.

Secando e poluindo

A degradação das lagoas e rios não só afeta a fauna e flora locais, como também diminui a capacidade de regulação do clima regional, no caso do Espírito Santo, da mata atlântica, que, com seu terreno montanhoso precisa da boa saúde de suas águas para se manter de pé. Essas áreas úmidas são essenciais para a manutenção da umidade do solo, especialmente em períodos de seca prolongada, quando a evaporação de água superficial se intensifica.

Lagoa Juparanã, Cabana do Minotauro – Foto de Vladimir Azevedo

Lagoa Juparanã

Localizada em Linhares, a Lagoa Juparanã tem enfrentado problemas sérios de poluição. A principal causa é o lançamento de efluentes domésticos e industriais sem tratamento adequado, o que tem comprometido a qualidade da água. Além disso, a exploração agrícola ao redor da lagoa tem contribuído para o aumento dos níveis de pesticidas e fertilizantes, resultando em eutrofização e diminuição da biodiversidade aquática.

Lagoa Jacuném

A região está inserida na Bacia Hidrográfica do Rio Jacaraípe e os principais cursos d’águia são os córregos Jacuném, Barro Branco e Venner. Segundo a Prefeitura da Serra, essa Área de Preservação Ambiental (APA) possui remanescentes da Mata Atlântica de tabuleiros em diversos estágios de sucessão declaradas de preservação permanente. Sua sede administrativa está localizada em meio à reserva em Barcelona, ao lado do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama. No espaço, são desenvolvidas atividades de educação ambiental, aulas de campo para escolas, cursos, palestras, oficinas, exposições e visitas monitoradas.

Lagoa Jacuném – Foto de Wagner Correa

Lagoa Mãe-Bá

A Lagoa Mãe-Bá, situada entre os municípios de Guarapari e Anchieta, tem sido alvo de estudos devido à proliferação excessiva de microalgas. Esse fenômeno, conhecido como eutrofização, é causado pelo aumento de nutrientes na água, como fósforo e nitrogênio, geralmente provenientes de atividades humanas, incluindo o despejo de efluentes industriais e agrícolas.

Tendo sido estudada inclusive por outros estados e pesquisada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a lagoa teve relatos recentes de mortes de peixes e mudanças na cor da água, indicando sérios problemas de contaminação. A Samarco, empresa mineradora presente na região, foi associada a alguns desses problemas, embora afirme que suas operações estão dentro dos padrões ambientais.

Lagoa do Siri

Situada em Marataízes, a Lagoa do Siri é uma importante área de lazer e turismo. No entanto, tem sofrido com a poluição decorrente de atividades agrícolas e despejo de esgoto. A eutrofização e o assoreamento são problemas frequentes, ameaçando a sustentabilidade ecológica da lagoa. A comunidade local tem se mobilizado para buscar soluções, incluindo projetos de recuperação ambiental e campanhas de conscientização.

Lagoa do Siri – Foto de Emanuel Tavares

Reservatórios de biodiversidade

A vegetação ribeirinha desempenha um papel crucial na proteção dos cursos d’água. Ao longo dos rios e riachos, as plantas atuam como uma barreira natural contra a erosão das margens, mantendo o equilíbrio do ecossistema local. Durante períodos de seca, essa vegetação também ajuda a regular o fluxo dos rios, permitindo que a água se infiltre no solo e recarregue os lençóis freáticos, uma fonte essencial de água para a população e para a agricultura.

Em contato com o Professor Maurício Novaes, especialista em manejo de ecossistemas e agroecologia do Ifes, o ES 365 perguntou sobre algumas causas e soluções para cuidar dessas fontes insubstituíveis. Confira a entrevista a seguir:

ES365: Quais são os principais desafios enfrentados pela conservação dos ecossistemas fluviais no Espírito Santo?

Prof. Maurício: A situação Capixaba não é tão diferente dos demais estados brasileiros. Em situação melhor apenas a região Norte. Ou seja, no Espírito Santo a conservação dos ecossistemas fluviais enfrenta diversos desafios que são comuns em muitas regiões, mas também têm características específicas relacionadas às condições locais. Os principais desafios para a preservação desta biodiversidade são o Desmatamento e Mudanças no Uso do Solo; Poluição urbana e por uso de Agroquímicos; Construção de Represas e Barragens, que alteram o regime de rios e lagoas, além do uso Excessivo da Água.

A situação é bastante complexa. Os interesses são múltiplos e as percepções acabam sendo distintas por parte da sociedade. Entretanto, para enfrentar esses desafios, é essencial implementar estratégias de conservação eficazes, promover práticas sustentáveis de uso da terra, fortalecer políticas públicas e envolver a comunidade local na proteção e recuperação dos ecossistemas.

Lagoa Mãe-Bá – Foto de Assembleia Legislativa do ES

Como a mudança climática está impactando a flora ribeirinha e de lagoas e quais são as estratégias a ser tomadas para reduzir esses impactos?

A mudança climática traz como os principais desafios para a preservação desses ecossistemas, a mudança/queda no padrão de chuvas, além do aumento e intensidade de enchentes/secas; Aumento de temperaturas e até mesmo mudanças perceptíveis na flora; Mudanças dos hábitos de espécies, perda de habitats e baixas nos rios e lagoas.

Para evitar e reduzir estes graves impactos é preciso monitorar e proteger áreas críticas e investir na recuperação de Habitats, Recursos Hídricos, além de implementar Políticas e Regulamentações, tais como as Políticas de Adaptação Climática e o Incentivo à Conservação.

Em sua opinião, qual é o papel das comunidades locais na conservação da flora destas áreas? E também, você acha que existe um abandono por parte das autoridades para com estas comunidades?

As comunidades locais desempenham um papel fundamental na conservação dos rios e lagoas. Sua participação ativa e engajamento são essenciais para a preservação e a gestão sustentável desses ecossistemas. O fato é que o sucesso na conservação da flora ribeirinha e de lagoas depende da colaboração e do compromisso de todas as partes envolvidas, incluindo as comunidades locais e as autoridades.

O que pode ser feito para melhorar o manejo das áreas de vegetação ribeirinha em termos de práticas sustentáveis e políticas públicas?

Melhorar o manejo das áreas de vegetação ribeirinha envolve a implementação de práticas sustentáveis e o desenvolvimento de políticas públicas eficazes. O sucesso no manejo das áreas de preservação depende de uma abordagem colaborativa e múltipla, que reconheça a importância desses ecossistemas para a saúde ambiental e para as comunidades que deles dependem.

Abordagem Capitania dos_Portos (CPES) na Lagoa Juparanã – Foto de CPES

É preciso que haja uma coordenação entre diferentes níveis de governo e setores da sociedade, uma promoção de uma abordagem integrada que combine conservação ambiental com desenvolvimento sustentável. Também é necessário o envolvimento ativo das secretarias ambientais em parceria com as comunidades, garantindo que suas necessidades e conhecimentos sejam considerados nas decisões de manejo.

Engajamento para além do poder público

Grandes empresas presentes no nosso estado também precisam compreender seu papel na conservação e ter consciência de sua parcela na poluição. Sabendo disso, é necessário haver a participação de nomes relevantes na indústria do Espírito Santo quando se trata de realizar medidas e ações que reduzam o impacto da sua produção nos ecossistemas. A Suzano, maior fabricante de celulose do mundo, por meio de sua assessoria, falou um pouco sobre como tem contribuído para um cenário mais sustentável em suas fábricas:

“A Suzano vem avançando em duas metas de longo prazo para cuidar na água: reduzir em 15% a captação de água até 2030 e aumentar a disponibilidade hídrica em todas suas bacias críticas, dois dos seus Compromissos para renovar a Vida. Nós também investimos em novas tecnologias e monitoramentos para tornar o uso da água pelo eucalipto mais eficiente. A empresa possui uma rede de monitoramento de bacias hidrográficas, parte do Projeto Microbacias. O objetivo é desenvolver novas técnicas de manejo florestal para produzir madeira em harmonia com os recursos naturais, como a água. O projeto, que completou 30 anos em 2023, conta com 15 bacias monitoradas com sensores”, comentou.

Parque das Neblinas, Reserva Ecofuturo – Foto de Suzano

Também é preciso frisar que a manutenção de áreas florestais e o incentivo a práticas de agroecologia entre pequenos produtores rurais é uma parceria importante para que todos, do setor público, privado e das comunidades desenvolvam a consciência ambiental e o manejo sustentável dos recursos naturais.

Medidas de contenção

A proteção de nascentes, rios e lagoas não pode mais ser vista como uma medida secundária. É essencial investir em políticas públicas de manejo sustentável da água, reflorestamento das áreas ribeirinhas e conscientização da população sobre o uso racional deste bem precioso.

Entre as soluções mais eficazes para enfrentar a crise hídrica no Espírito Santo está o incentivo à recuperação de matas ciliares e à revitalização de lagoas. Programas de reflorestamento com espécies nativas podem ajudar a reverter a degradação das margens dos rios e melhorar a infiltração de água no solo, favorecendo o aumento do nível dos lençóis freáticos.

Além disso, a gestão eficiente dos recursos hídricos deve incluir a promoção de práticas agrícolas e industriais sustentáveis e menos predatórias, que utilizem menos água e evitem a contaminação dos mananciais. O incentivo ao uso de tecnologias que reduzam o desperdício de água e a educação ambiental nas comunidades são também pilares fundamentais para a preservação. Governos, empresas e cidadãos precisam unir esforços em prol de uma gestão hídrica mais consciente e eficaz, pois só assim será possível enfrentar os desafios climáticos e preservar esse patrimônio natural essencial para a vida.

Compartilhe