Além dos muros da escola: educação alterativa e o acesso ao aprendizado

Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)

Em um mundo onde o aprendizado não precisa estar restrito às quatro paredes de uma sala de aula, diversas iniciativas têm demonstrado que o acesso à educação pode ser alcançado em qualquer lugar. Das redes sociais até um projeto itinerante, cada vez mais surgem formas de levar conhecimento para quem quer aprender, mostrando que o ensino é tão ilimitado quanto o desejo de descobrir. Com a missão de tornar o aprendizado mais inclusivo e acessível, várias iniciativas surgem pelo país para levar a educação a lugares fora do ambiente escolar tradicional.

Na era digital, o acesso à informação nunca foi tão facilitado; no entanto, para uma educação acessível, é necessário adaptar e nascer alternativas que levem o ensino para fora do ambiente escolar tradicional. Seja por meio de plataformas digitais, projetos comunitários ou iniciativas culturais, essas novas abordagens vêm transformando o acesso ao conhecimento e quebrando barreiras que, antes, eram esquecidas, vistas como naturais.

Finalizando o mês dos professores, é preciso entender a importância do acesso ao ensino para além das carteiras e quadros. Em diversos lugares, projetos inovadores surgem para atender às necessidades de quem busca aprender de forma diferente. Essas iniciativas levam aprendizado a espaços como praças, bibliotecas, plataformas digitais e até mesmo espaços naturais, mostrando que a educação pode se adaptar às necessidades e realidades de cada comunidade.

De oficinas em espaços comunitários a plataformas digitais, as possibilidades de aprendizado se diversificam e transformam a vida de pessoas que, de outra forma, não teriam acesso ao conhecimento. Um exemplo dessa transformação está nos “Espaços Potencialmente Educativos”. Termo criado pelos educadores para descrever lugares em que crianças e adolescentes podem acessar o conhecimento fora da escola e da sala de aula, é possível classificar diversos locais no ES com essas características. “Com certeza, qualquer espaço tem potencial educativo, mas trabalhar os espaços fora da escola articulado com a educação formal é um grande desafio e é um olhar diferenciado”, afirmam os educadores da Secretaria Estadual de Educação (Sedu).

Lab Saúde do Senac ES – Foto de Divulgação

Para quem vê na sala de aula o único ambiente de ensino, os novos projetos que surgem por todo o país podem parecer uma novidade. Desde atividades culturais em centros comunitários até cursos virtuais nas redes sociais, o conhecimento está cada vez mais acessível para todos. Em um país onde o ensino ainda enfrenta desigualdades, essas iniciativas são a prova de que é possível — e necessário — reinventar os espaços de aprendizado, essas iniciativas estão mudando a realidade da educação e dando oportunidades que antes pareciam fora do alcance.

Para um número crescente de estudantes e educadores, a educação não é apenas uma questão de estar na escola. “Quando nós, professores, profissionais da educação formal, optamos por levar os alunos para fora da escola fica implícito nesta escolha uma concepção de educação para além da educação formal. Certamente, é uma escolha que possibilita outros tipos de educação, como a educação não formal e a informal. Sair da escola, com profissionais da escola, permite ao aluno vivenciar a integração desses três tipos de educação (formal, não formal e informal). Esse ganho é único, é algo diferente de conhecer um museu ou qualquer espaço de educação não formal com a família, por exemplo.” conta Manuella Villar, professora do Ifes.

Instituição sobre rodas?

A educação no Brasil ganha novas formas e ultrapassa os limites da sala de aula com iniciativas que buscam democratizar o conhecimento e capacitar cada vez mais pessoas. Além das escolas tradicionais, instituições como o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e projetos comunitários têm oferecido alternativas para quem deseja aprender e se qualificar fora do ensino regular.

O Senac, por exemplo, tem se destacado em ações voltadas à capacitação profissional por meio de cursos livres e programas gratuitos, que são oferecidos em formato remoto e em unidades móveis. Em entrevista ao Portal ES365, Dianimer Dutra, Diretora de Educação Profissional do Senac-ES, explicou sobre as iniciativas da instituição para ações de educação alternativas:

Lab Saúde do Senac ES – Foto de Divulgação

PORTAL ES365: Como surgiu a ideia de criar a Unidade Móvel do Senac e qual foi a principal motivação do projeto SmartLab?

Dianimer: A ideia de criar a Unidade Móvel do Senac nasceu da necessidade de expandir o acesso à educação profissional para comunidades que não possuem infraestrutura educacional próxima ou acessível. Queríamos democratizar o acesso ao conhecimento e levar capacitação diretamente a essas regiões.

A SmartLab, especificamente, foi motivada pela visão de criar um ambiente educacional inovador que une tecnologia e ensino prático. Nosso objetivo é proporcionar um aprendizado dinâmico e integrador, adaptado às demandas atuais do mercado de trabalho, mesmo em áreas com acesso limitado a recursos tecnológicos.

Dianimer Dutra, Diretora de Educação Profissional do Senac-ES

Quais são os principais desafios de levar a experiência dos projetos do Senac para locais fora do ambiente escolar tradicional?

Essa ação apresenta alguns desafios significativos, principalmente logísticos e de adaptação ao contexto local. Em termos logísticos, precisamos garantir que a estrutura da Unidade Móvel esteja sempre pronta para funcionar, independentemente do local ou condições ambientais. Além disso, temos que adaptar os cursos/portfólio para se ajustarem às necessidades das comunidades atendidas, garantindo que o conteúdo seja relevante e que os recursos tecnológicos sejam acessíveis e inclusivos, respeitando as particularidades culturais e sociais de cada região.

Notamos um impacto diferenciado quando levamos a educação para fora da sala de aula; há uma conexão mais forte com a realidade dos alunos. Eles conseguem ver aplicabilidades diretas do que estão aprendendo no contexto de suas vidas e no mercado de trabalho local. Esse contato prático reforça o aprendizado e estimula uma maior motivação, pois os alunos sentem que o conhecimento é tangível e aplicável. Em muitos casos, esse aprendizado se torna mais significativo, promovendo habilidades socioemocionais e técnicas ao mesmo tempo.

Lab Saúde do Senac ES – Foto de Divulgação

Quais parcerias foram fundamentais para que a SmartLab pudesse chegar a mais pessoas e ampliar seu alcance?

As parcerias foram e continuam sendo cruciais para o sucesso da Smart Lab e de todas as Unidades Móveis, atualmente contamos com três: Smart Lab, Gastro Lab e Lab Saúde, cada uma focada em um eixo específico, respectivamente: tecnologia, gastronomia e saúde.

Colaboramos com entidades governamentais e empresas locais para mapear as demandas das comunidades, fornecer infraestrutura e recursos adicionais. Além disso, nossos parceiros nos ajudam a ampliar a rede de apoio para que o projeto tenha impacto contínuo e sustentável. As parcerias possibilitam, por exemplo, o desenvolvimento de conteúdos que dialogam com as especificidades regionais, promovendo uma educação personalizada e eficaz.

Mirando as estrelas

O Planetário Móvel Urânia é uma iniciativa itinerante que leva o conhecimento astronômico para diferentes locais, especialmente escolas e eventos, utilizando um planetário inflável e equipamentos de projeção. Seu principal objetivo é tornar a astronomia acessível a diversas comunidades, permitindo que as pessoas tenham uma experiência imersiva com o universo sem precisar visitar um planetário fixo. Ele atende diferentes públicos, com apresentações que podem variar de acordo com a faixa etária, tornando-se uma ferramenta interessante de educação fora do ambiente escolar.

Essa iniciativa contribui para democratizar o acesso ao conhecimento científico, especialmente em áreas onde o acesso a planetários fixos ou outros recursos educacionais mais avançados pode ser limitado. Isso está alinhado com a ideia de educação acessível, permitindo que o conhecimento chegue até os alunos em vez de depender apenas do ambiente escolar tradicional.

Urânia planetário Móvel nas escolas – Foto de divulgação

Nesta entrevista, conversamos com os responsáveis pelo projeto para entender como essa iniciativa itinerante transforma a curiosidade em conhecimento, proporcionando momentos de imersão e encantamento para quem talvez nunca tenha tido a chance de ver o céu de tão perto.

PORTAL ES365: Como surgiu a ideia de criar o Planetário Móvel Urânia e qual foi a principal motivação do projeto?

Planetário Urânia: Há 10 anos, durante um típico churrasco de domingo, nasceu uma grande ideia. Tiago José da Silva, CEO da empresa, cresceu em um ambiente repleto de conhecimento astronômico. Sua mãe, Edna, foi diretora do planetário da Universidade Federal de Santa Catarina por quase 30 anos, o que fez com que ele sempre estivesse envolvido em eventos e discussões sobre Astronomia.

Naquela ocasião, conversavam sobre as limitações de um planetário fixo. Edna expressava o desejo de levar o conhecimento astronômico para além das grandes cidades, alcançando o interior e ampliando o público. Foi a partir dessa conversa que surgiu a ideia de criar a Urânia, nomeada em homenagem à musa da Astronomia, e também a Edna. Hoje, a Urânia está presente em 19 estados do Brasil, despertando o amor pelo conhecimento e, quem sabe, revelando futuros astronautas.

Quais são os principais desafios de levar a experiência de um planetário para todo Brasil?

Os desafios são inúmeros. Atuamos em algumas regiões com grandes limitações de transporte, onde muitas vezes precisamos usar barcos, balsas ou enfrentar estradas de terra. Muitas das escolas que visitamos não têm infraestrutura adequada, como coberturas ou pontos de energia. Já passamos por situações em que tivemos que desmontar toda a nossa estrutura devido a tempestades repentinas – como uma vez em que a quadra de uma escola inundou completamente!

Esse é um tema especial, e foi justamente o assunto de uma palestra ministrada pelo nosso astrônomo José Roberto Vasconcelos da Costa no encontro da Associação Brasileira de Planetários no ano passado. Esse tópico renderia até um livro (risos). No fim das contas, todas essas dificuldades só nos motivam ainda mais. É uma satisfação enorme levar nossa estrutura para lugares que nunca tiveram a oportunidade de vivenciar a experiência de um planetário.

Foto de planetário, observatório – Foto de Mikhail Nilov

Vocês percebem um impacto diferenciado no aprendizado quando a educação é levada para fora da sala de aula?

Com certeza! Todos os dias recebemos feedbacks de professores e diretores dizendo o quanto aquela experiência foi inesquecível. Tivemos escolas que nos reportaram que tiveram mais alunos medalhistas na Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA). Muitas escolas não participavam da OBA e agora expressam o desejo de participar, e ouvimos frases como “Professor, quero ser astronauta!” ou “Gostaria de morar nessa cúpula!”. Esses retornos nos motivam diariamente a oferecer a melhor experiência possível, transformando nossos alunos em apaixonados por essa ciência fascinante que tanto nos instiga.

Quais parcerias foram fundamentais para que o Planetário Móvel Urânia pudesse chegar a mais pessoas e ampliar seu alcance?

Os Astrônomos foram peças fundamentais para que pudéssemos alcançar diferentes estados, temos uma equipe impecável que não mede esforços para levar uma melhor experiência.

Temas como Astronomia são pouco explorados no currículo escolar. Apresentar conteúdos complexos de forma lúdica pode transformar disciplinas como Física, Química, Matemática e Ciências afins em matérias fascinantes. No próximo ano, teremos o ‘Urânia: Ciências do Universo’, em que, além da Astronomia, abordaremos diversos temas relacionados à ciência.

Abrindo mentes e inspirando histórias

Ao expandir o conceito de ensino para além dos limites tradicionais, projetos como os do Senac, do SESI e de inúmeras iniciativas que partem de ideias inovadoras, a educação pode e deve estar ao alcance de todos. Essas ações não apenas levam conhecimento a quem, muitas vezes, está à margem do sistema escolar, mas também ampliam horizontes, proporcionando novas perspectivas e oportunidades de crescimento. Em um país marcado por desigualdades educacionais, cada nova possibilidade de aprender é um passo em direção a um futuro mais inclusivo e promissor, onde o conhecimento circula e transforma vidas, não importa o lugar.

Educação – Foto de Ana Shvetsol

Esses projetos mostram que, ao lado de instituições como o Senac e o SESI, o conhecimento está se expandindo e alcançando quem, até então, via a educação como algo distante. Em um país onde a educação ainda enfrenta barreiras significativas, esses esforços colaborativos representam uma esperança de mudança e inclusão, levando oportunidades de aprendizado e qualificação para todos os cantos do Brasil.

Em um cenário onde o acesso à educação é ainda um desafio para muitos, iniciativas que levam o ensino para além das salas de aula se destacam como verdadeiros pontos de transformação social. Da aprendizagem ao ar livre em espaços comunitários a aulas digitais que chegam a regiões afastadas, esses projetos mostram que o conhecimento pode ser acessível para todos — basta encontrar o caminho certo para cada comunidade.

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