Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)
A qualidade do ar na Grande Vitória tem sido uma preocupação crescente para os seus habitantes. Com o aumento contínuo da frota de veículos na região, que já ultrapassa 211mil somente na capital, segundo o IBGE, o impacto ambiental é evidente, especialmente nos centros urbanos mais movimentados. O tráfego intenso contribui diretamente para a emissão de poluentes atmosféricos, como monóxido de carbono (CO) e dióxido de nitrogénio (NO2), que são prejudiciais à saúde.
Com tantas pessoas sofrendo com problemas respiratórios nas ultimas semanas, vale a pena estudar como o ar na região metropolitana pode estar colaborando para a fragilização da nossa respiração. Será que tudo tem a ver só com a “virada do tempo”?

O famigerado “pó preto”, uma mistura de partículas finas, associada às atividades industriais das mineradoras, está logo em seguida quando o assunto é queda na qualidade do ar na região metropolitana do ES. Este pó, espalhado pelo vento, se deposita nas casas, veículos e até mesmo na pele dos moradores, causando incômodo e possíveis riscos respiratórios. Estudos apontam que as partículas inaláveis, especialmente as de menor tamanho (PM2.5), podem penetrar profundamente nos pulmões e até atingir a corrente sanguínea.
A combinação desses fatores — a alta circulação de carros e o pó preto — exige atenção redobrada das autoridades públicas. Programas de monitoramento da qualidade do ar, como os conduzidos pelo Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (IEMA), têm mostrado níveis preocupantes de poluição em algumas áreas. Além disso, a falta de fiscalização sobre a emissão de poluentes industriais e veículos em mau estado de conservação agrava o problema.
Para autoridades, como o Vereador André Moreira do Psol, é importante abrir espaço para a discussão quanto à poluição do nosso ar. “O risco ambiental é evidente quando paramos para pensar existem pouquíssimos locais no mundo como Vitória, que tem duas empresas poluidoras, especificamente siderúrgicas, dentro do seu território. O pó preto, somado às condições de vento e temperatura, são fatores que devem ser mais estudados”, comenta André. “Existem dados de um estudo da Ufes, que demonstra um impacto na saúde tanto na saúde respiratória quanto na cardiovascular, como também problemas de irritação ocular e já identificado na população que vive em torno dessas empresas aqui em Vitória e na Serra.”
Minério de Ferro e muita poeira
O ‘pó preto’ na região da Grande Vitória é um problema amplamente conhecido e, em grande parte, atribuído às operações industriais, incluindo as da Vale. Ele consiste em partículas finas de minério de ferro, carvão e outros materiais que são lançadas no ar durante o transporte, armazenamento e processamento de produtos minerais. Embora a Vale não seja a única responsável, suas operações de extração, transporte e embarque de minério de ferro são apontadas como uma das principais fontes desse material particulado.
O vereador André moreira, que já havia mencionado a gravidade da situação, voltou a reforçar a necessidade de uma ação mais rápida das autoridades. “O dado para a saúde pública ainda é pouco mensurado, mas já se sabe que, quando há aumento de percepção do pôr preto, há também aumento de internações no sistema de saúde municipal. Nós fizemos o pedido de informação e vimos que houve um aumento da percepção e dos níveis de pó preto medidos pelo Iema”, conta André. “Essa piora pode decorrer de muitos elementos, mas um deles pode é o aumento da produção da Vale e da Arcelor; de 2018 a 2023 houve um aumento em todos os pontos de medição, junto do aumento de poeira sedimentável”, destaca.
O problema do pó preto é um exemplo claro da tensão entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental. Resolver esse desafio requer esforços integrados entre empresas, governo e sociedade civil, com foco na implementação de tecnologias mais limpas e na melhoria das políticas públicas ambientais.

O manuseio de grandes volumes de minério de ferro, carvão e outros materiais a granel pode liberar partículas no ambiente. Ventos fortes podem espalhar essas partículas para áreas residenciais próximas. Durante o transporte, especialmente em vagões ou caminhões abertos, pequenas partículas podem escapar e se depositar ao longo das rotas.
As partículas finas (PM10 e PM2.5) são capazes de entrar no sistema respiratório, causando irritações, alergias e, em casos mais graves, doenças respiratórias crônicas e cardiovasculares, além de que o acúmulo visível do pó prejudica a percepção da qualidade ambiental da região.
Segundo consta em seu site, a Vale reconhece a complexidade do problema e afirma ter tomado medidas para minimizar os impactos ambientais de suas operações. Algumas iniciativas divulgadas pela empresa incluem uso de barreiras físicas para reduzir a dispersão de partículas, como cercas, telas e cortinas vegetais em torno das áreas de operação e sistemas de aspersão de água para diminuir a emissão de poeira durante o transporte e o manuseio de materiais. Até o fechamento da matéria, não tivemos resposta da Vale sobre as medidas para proteger a população dos efeitos colaterais do seu negócio.
Quando isso muda?
Não é apenas o pó preto que influencia na saúde dos pulmões dos moradores da Grande Vitória. O clima desempenha um papel fundamental na dispersão e na concentração de poluentes atmosféricos, como o pó preto, na região. Fatores como ventos, temperaturas e chuvas afetam diretamente a permanência e os impactos da poluição do ar na área.
A região da Grande Vitória, composta pelos municípios de Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica e Viana está localizada em uma área costeira, onde os ventos predominantes vêm do oceano (ventos alísios). Esses ventos podem tanto ajudar na dispersão dos poluentes, empurrando-os para longe das áreas urbanas, quanto concentrá-los em certas regiões quando há mudanças na direção. No entanto, a presença também de morros nessa região, facilita a permanência de partículas poluentes, que podem ser carregadas pelo vento e se depositar em bairros mais distantes das fontes emissoras.
André Moreira também aponta que a recuperação da qualidade do ar depende de políticas públicas robustas. “Vitória tem a predominância de um vento nordeste, que é cerca de 40% do período anual, e, com o calor seco, favorece a dispersão do pó preto, atingindo prioritariamente a capital, e chegando até Vila Velha. Já na Serra, o que atinge é o vento sul; As indústrias contribuem comprovadamente para o aumento da poluição atmosférica na Grande Vitória”, diz.

“O primeiro desafio é enfrentar o poder econômico das grandes empresas, para que elas façam adequações reais nas suas atividades. A lei 10.011 de 2023 estabelece padrões de qualidade do ar com um máximo de poluentes em 14g por m² em um intervalo de 30 dias; as empresas já tem feito em torno de 8g. Esta lei foi votada, sancionada e ela está suspensa por uma ação movida pela Findes. Enquanto o poder político estiver alinhado às empresas, a sociedade civil precisa se organizar ainda mais”, finaliza o vereador.
Os relatórios de qualidade do ar mostram algumas das porcentagens de poluição no ar na capital, aumentando no intervalo de um ano. Nos sete pontos de coleta localizados em Vitória, as medições de agosto de 2022 a agosto de 2023 mostram os seguintes números:
- Enseada do Suá – 560,87%
- Jardim Camburi – 533,33%
- Centro – 423,08%
- Praia do Canto – 423,08%
- Ilha do Boi – 358,82%
- Hotel Senac – 343,75%
Outros especialistas defendem que soluções integradas são fundamentais. O incentivo ao transporte público eficiente e sustentável, a ampliação de áreas verdes urbanas e o fortalecimento da legislação ambiental são caminhos possíveis para mitigar os impactos da poluição. Além disso, uma maior conscientização da população sobre os riscos associados à poluição pode promover mudanças nos hábitos cotidianos, como o uso compartilhado de veículos e o incentivo à mobilidade ativa, como caminhar e pedalar.
Enquanto isso, é essencial que todos – governo, empresas e cidadãos – façam a sua parte para garantir que as futuras gerações respirem um ar mais limpo na Grande Vitória.
