ArcelorMittal e mudanças climáticas: Um compromisso insuficiente para o futuro

Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)

Em um cenário global de crescente pressão para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e combater as mudanças climáticas, a ArcelorMittal, uma das maiores produtoras de aço do mundo, se vê no centro de um debate crítico. Segundo a agência de notícias do Governo Federal, a temperatura média do planeta rompeu limite de 1.5°C em 2024. Centros meteorológicos apontam que a temperatura média global do planeta em 2024 ultrapassou pela primeira vez a marca de 1.5°C, comparado aos níveis pré-industriais, ao longo de 11 meses.

A produção de aço é uma das indústrias mais intensivas em carbono, responsável por cerca de 7-9% das emissões globais de CO₂, um dos principais gases causadores do aquecimento global. Em um momento em que a urgência climática exige ações rápidas e efetivas, as iniciativas da gigante siderúrgica, embora louváveis, ainda deixam a desejar.

Indústria do aço e a crise climática

O aço, um material essencial para a construção, transportes e outros setores, tem um custo ambiental elevado. O processo tradicional de produção de aço, que utiliza coque (carvão de alta qualidade) nos altos-fornos, é o principal responsável pela liberação de grandes volumes de dióxido de carbono nas plantas de tratamento do minério de ferro, como em Tubarão (Vitória – ES). A ArcelorMittal, com suas vastas operações globais, não está imune à responsabilidade dessa pegada de carbono, e seu impacto nas mudanças climáticas não pode ser ignorado.

Embora a empresa tenha adotado a meta de atingir as emissões líquidas zero até 2050, essa meta ainda parece distante diante dos avanços tecnológicos limitados e dos desafios econômicos associados à descarbonização da indústria. A promessa de utilizar hidrogênio verde e outras inovações tecnológicas para reduzir as emissões, por exemplo, está longe de ser uma realidade escalável e acessível. O setor siderúrgico, por sua própria natureza, apresenta uma das maiores dificuldades para a redução de suas emissões, e a ArcelorMittal, apesar de seus esforços, está apenas arranhando a superfície de uma verdadeira transformação.

Usina Arcelor Mittal Piracicaba – Foto de Arcelor Mittal

Entre a responsabilidade e a ação

Em suas declarações públicas, a ArcelorMittal afirma que está investindo em tecnologias de captura de carbono, eficiência energética e energias renováveis. Porém, enquanto a empresa faz esses investimentos, a realidade é que, até o momento, o setor siderúrgico ainda depende fortemente do carvão e de processos poluentes para manter sua produção. A promessa de “aço verde” é uma visão atraente, mas para que essa transição aconteça de fato, é necessário um comprometimento mais robusto e urgente.

Além disso, é importante destacar a falta de clareza quanto à escala de implementação dessas tecnologias. A transição para um modelo sustentável de produção de aço exige investimentos bilionários, e é questionável se a ArcelorMittal está disposta a acelerar essa mudança diante dos custos envolvidos. Enquanto isso, o planeta continua aquecendo e a janela de oportunidade para evitar os piores cenários climáticos vai se fechando rapidamente.

A ArcelorMittal tem buscado parcerias com governos e outras empresas, uma medida importante no caminho para a inovação tecnológica. No entanto, a verdadeira mudança só ocorrerá se houver uma colaboração genuína e efetiva para superar os obstáculos econômicos e tecnológicos que ainda bloqueiam a transição para uma produção de aço limpa. O investimento em parcerias é crucial, mas não pode ser um substituto para a ação imediata e decisiva.

As metas climáticas globais, especialmente o compromisso de limitar o aumento da temperatura a 1,5°C, não podem ser alcançadas apenas com promessas. A indústria do aço, e a ArcelorMittal em particular, precisa entender que o tempo de soluções graduais passou. A pressão para reduzir emissões é cada vez mais intensa, e as empresas precisam agir com mais vigor, antes que suas boas intenções sejam vistas como uma tentativa tardia de fazer o mínimo necessário.

Arcelor Mittal Tubarão – Foto de Divulgação

O que esperar do futuro?

A ArcelorMittal, como muitas outras grandes corporações, tem um papel vital na mitigação da crise climática. A transição para uma produção de aço sustentável, que leve em conta tanto o futuro do planeta quanto a viabilidade econômica, precisa ser mais rápida e mais ambiciosa. Não basta investir em tecnologias, é necessário repensar os modelos de produção e adotar práticas mais sustentáveis agora. O futuro do setor siderúrgico e da humanidade depende das escolhas feitas hoje.

A crítica à ArcelorMittal não vem de um lugar de pessimismo, mas de uma urgência real e necessária. A empresa tem o poder de liderar essa transformação, mas precisa demonstrar um comprometimento mais sério e imediato com o meio ambiente. Afinal, a verdadeira sustentabilidade não se constrói com promessas vazias, mas com ações que correspondam à escala dos desafios que enfrentamos. O tempo para esperar passou. O futuro exige resultados concretos, agora.

Procurada pelo Portal ES365, a Arcelor Mittal preferiu não se pronunciar a respeito da matéria.

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