Educação Acessível: Iniciativas Inclusivas Transformam o Ambiente Escolar

Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)

A educação acessível tem se tornado um tema cada vez mais discutido e essencial no Brasil. Compreender as dificuldades e as necessidades dos alunos com deficiências visíveis e invisíveis é o primeiro passo para garantir um ambiente escolar acolhedor e igualitário. No Espírito Santo, diversas iniciativas estão em andamento para que a acessibilidade seja uma realidade em todas as escolas, com um impacto positivo na experiência educacional dos estudantes.

Óculos Inteligente, OrCam MyEye 2.0 – Foto de Governo do ES

Garantir a acessibilidade nas escolas vai além de rampas de acesso ou banheiros adaptados; trata-se de criar um ambiente de aprendizado que seja inclusivo e equitativo para todos. Isso envolve o uso de tecnologias assistivas, como os óculos de leitura inteligentes, entregues para alunos com deficiência visual. O OrCam MyEye 2.0, fornecido pelo Governo do ES, é um exemplo de mais autonomia e independência para os estudantes, frisando a preocupação com a maior inserção destes alunos no ambiente escolar. “Os ‘óculos inteligentes’ são mais do que apenas uma ferramenta tecnológica; eles são um passo importante para garantir que cada aluno tenha acesso ao conhecimento e às oportunidades que merecem. Esse recurso é um ganho enorme para a autoestima e o desenvolvimento pessoal dos alunos”, pontuou o secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional (SECTI), Bruno Lamas.

Segundo Claudia Patricia Pinheiro, pesquisadora na área de educação inclusiva e psicopedagoga, a acessibilidade educacional não se resume a modificar estruturas físicas. “Uma das principais barreiras enfrentadas por estudantes que são pessoas com deficiência, ainda é o preconceito vindo da própria comunidade escolar, o preconceito que estigmatiza as pessoas com deficiência, como se a deficiência da pessoa a incapacitasse para estar no ambiente acadêmico, a incapacitasse para a produção acadêmica. Mais do que as tecnologias assistivas, mais do que a adaptação curricular que já existe para os estudantes com deficiência, a barreira do preconceito, da discriminação, é uma das mais difíceis de ser superadas e ainda há muito o que se fazer para vencer este obstáculo”, destaca Claudia. Essa mudança de perspectiva é necessária para atender às diferentes formas de aprender, trazendo benefícios para toda a comunidade escolar.

Para viabilizar essa transformação, o avanço está, por exemplo, na parceria com instituições como a APAE, que colabora com escolas em projetos de sensibilização e formação contínua sobre as necessidades dos alunos com deficiência. “A Apae de Vitória é um serviço de referência no atendimento a pessoas com deficiência intelectual e/ou múltipla e/ou autismo nas áreas da Saúde, Assistência Social e Educação, de forma gratuita. O grande diferencial do trabalho da Apae está no fato de ela ter sido constituída por pais e outras pessoas amigas da causa, o que torna a Instituição um verdadeiro capital social construído a partir dos anseios das famílias atendidas”, descreve a instituição.

Foto de Reprodução

No entanto, ainda há desafios significativos. A falta de materiais didáticos acessíveis e de mais profissionais especializados nas escolas públicas são pontos que dificultam a implementação completa de uma educação verdadeiramente inclusiva. Mesmo com esses obstáculos, cada passo dado na direção da acessibilidade representa uma oportunidade para transformar a educação no país e fazer dela um direito verdadeiramente universal.

Como sociedade, o desafio é fazer com que essas iniciativas se tornem padrão e estejam ao alcance de todas as escolas, em todas as regiões. A luta pela educação acessível é a luta por um futuro onde todos os estudantes possam aprender, crescer e se desenvolver em um ambiente inclusivos Iniciativas como essa ajudam a derrubar barreiras e a promover um ambiente de aprendizado onde todos os alunos se sentem acolhidos e motivados a desenvolver seu potencial.

Educação para todos

No Espírito Santo, cada vez mais escolas buscam oferecer uma educação acessível para todas as pessoas, com deficiência ou não, garantindo uma experiência de aprendizado completa e digna. Com iniciativas que vão desde adaptações físicas até o uso de tecnologias assistivas, instituições de ensino estão tentando superar barreiras para acolher uma diversidade maior de estudantes. Rampas, elevadores e banheiros adaptados já fazem parte de várias unidades. Além disso, a oportunidade de se formar em Letras-Libras pela Universidade Federal do Espírito Santo é uma realidade desde 2014.

Outra iniciativa de destaque está com o Núcleo de Acessibilidade do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), que atua em busca da inclusão de estudantes com deficiências e oferece desde adaptações físicas até o uso de tecnologias assistivas. Concedendo entrevista ao Portal ES365, a Diretoria de Assuntos Estudantis do Ifes, explicou os desafios enfrentados e as medidas tomadas pelo Instituto Federal para garantir acesso e dignidade para seus alunos e professores.

Foto de Marcelo Casall Jr., Agência Brasil

PORTAL ES365: Quais são as principais barreiras enfrentadas por estudantes com deficiência na comunidade acadêmica? Existem medidas específicas sendo implementadas para superar esses desafios?

Diretoria: Algumas das principais barreiras enfrentadas por estudantes com deficiência no Ifes estão relacionadas à acessibilidade física dos ambientes, acessos e meios de transporte. Muitos prédios são construções antigas, que necessitam de adaptações. Aos poucos temos avançado nas reformas necessárias para que se tornem mais acessíveis.

Outra questão é a infraestrutura das cidades, que muitas vezes impõe algumas limitações à circulação. Além de questões com vias de acesso aos campi, especialmente no interior do Estado. O Ifes busca estabelecer convênios e contratos para promover a acessibilidade e também está em constante diálogo com o poder público para tentar encontrar soluções.

O Ifes também promove ações de sensibilização, por meio dos seus Núcleos de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napnes), existentes em cada campus, para trabalhar as questões atitudinais presentes na sociedade como um todo, como o capacitismo. Os Napnes são responsáveis pela mobilização de ações e atendimentos em torno das demandas das pessoas com deficiências, Transtorno do Espectro Autista e/ou Altas Habilidades/ Superdotação.

Como está o acesso a recursos e tecnologias assistivas nas instituições de ensino? Algum projeto recente que esteja facilitando a inclusão?

Em relação às tecnologias, observamos a ampliação de projetos de pesquisa que vêm desenvolvendo soluções de tecnologia assistiva para o dia-a-dia dos estudantes com deficiências. Por outro lado, observamos a escassez de recursos investidos – pelas agências de fomento, poder público e iniciativa privada, em geral – nessas soluções, seja para o seu desenvolvimento, replicação, refinamento, ou para a aquisição de soluções já disponíveis.

Com o apoio das equipes dos Napnes, bem como de profissionais especializados (professores de Atendimento Educacional Especializado, tradutores e intérpretes de Libras, cuidadores, auxiliares educacionais), temos buscado orientar os professores quanto às especificidades dos estudantes, quanto às suas demandas educacionais, além de dialogar sobre como atendê-las. A instituição também promove eventos, palestras, seminários, cursos de curta e longa duração, voltados à formação dos profissionais para atuarem junto ao público da Educação Especial.

Foto de Marcello Casal Jr, Agência Brasil

Vocês acreditam que a educação à distância trouxe novas oportunidades ou desafios para a acessibilidade?

Em relação à Educação à Distância, observamos tanto oportunidades como desafios. Nesta modalidade de ensino, as tecnologias são peça-chave para o processo de ensino-aprendizagem. Assim, a acessibilidade digital se torna um pré-requisito para a garantia da inclusão das pessoas com deficiência nos cursos da modalidade, o que não significa que estamos totalmente prontos, mas o projeto de Educação Acessível precisa estar sempre em movimento. Os desafios partem da diversidade que se apresenta, tanto das condições de deficiência dos estudantes, como de suas histórias e contextos de vida, que se materializam em demandas específicas e, portanto, em soluções diversificadas e flexíveis o bastante, para se adequarem a essas realidades e promover o acesso de todas as pessoas à Educação.

Por fim, cabe destacar que a instituição está com inscrições abertas até 7 de novembro para o curso Educação Especial na Perspectiva da Educação Especial Inclusiva (a distância): https://cefor.ifes.edu.br/index.php/processo-seletivo/alunos/17503-edital-n-128-2024-curso-fic-de-educacao-especial-na-perspectiva-da-educacao-especial-inclusiva

É para frente que se avança

Apesar de muitas implementações positivas, os desafios permanecem. Muitas escolas ainda enfrentam dificuldades para adaptar suas estruturas físicas e curriculares a fim de atender os alunos e professores com diversos tipos de deficiência. O investimento em recursos acessíveis é fundamental para que a educação inclusiva seja uma realidade plena.

A Secretaria de Educação do Espírito Santo está ciente das demandas e planeja novas ações para promover a inclusão. De acordo com a Secretaria, o Núcleo Estadual de Apoio Pedagógico à Inclusão Escolar existe e atua em apoio à implementação de políticas de educação inclusiva, como parceiro no trabalho pedagógico desenvolvido nas escolas estaduais, por meio da oferta de assessoramento, monitoramento, capacitação aos profissionais da educação e produção de materiais pedagógicos acessíveis, visando garantir um trabalho inclusivo de qualidade aos estudantes público-alvo da Educação.

A transformação que deve acontecer nas escolas do nosso estado é um passo importante para uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos os estudantes, independente de suas condições, possam aprender e se desenvolver com dignidade.

Estudantes de Cariacica participam de atividades em combate ao capacitismo – Foto de Governo do ES

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