Educação Conectada: Desafios e Benefícios do Uso da Tecnologia nas Escolas

Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)

Nos últimos anos, o uso da tecnologia nas escolas do ensino fundamental e médio tem sido um tema amplamente debatido. Projetores em salas de aula, projetos de robótica, plataformas de ensino interativas e até mesmo o uso de inteligência artificial em projetos coletivos estão revolucionando a forma como os alunos aprendem, trazendo oportunidades de inovação e preparando os estudantes para um futuro conectado. Mas, ao mesmo tempo, a dependência de dispositivos como celulares tem gerado desafios para professores e para os próprios alunos.

A solução parece estar no equilíbrio. Enquanto o ensino de robótica e o uso de plataformas educacionais demonstram que a tecnologia pode ser uma aliada poderosa no ensino básico, é essencial que escolas estabeleçam políticas claras sobre o uso de celulares. Capacitar professores, envolver os pais no diálogo e ensinar os alunos a utilizarem a tecnologia de forma responsável são passos fundamentais para maximizar os benefícios e mitigar os desafios.

Um dos grandes destaques no uso positivo da tecnologia no ambiente escolar são os projetos de robótica. Cada vez mais escolas têm incluído a programação de aplicativos, jogos e a construção de robôs como parte de suas atividades extracurriculares. Esses projetos não apenas ensinam conceitos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática, mas também estimulam o trabalho em equipe, a criatividade e a resolução de problemas. Além disso, plataformas de ensino digital têm ampliado o acesso a conteúdos didáticos, permitindo que alunos avancem no próprio ritmo e revisem matérias de forma personalizada.

Disciplina de Robótica – Foto de Escola Ludovico, via Instagram

Na Escola Ludovico Pavoni, do Bairro Santo Antônio, em Vitória, desde 2017 a matéria de Robótica tem sido um diferencial para seus alunos. Ensinando os princípios da programação, da tecnologia de informação e desenvolvimento de circuitos eletrônicos, a disciplina permite que os estudantes expandam seus conhecimentos para além do currículo básico.

Rosiani Valvassori, diretora Pedagógica da escola, comenta que “Estamos num caminho sem volta; e isso não é uma reclamação! Se pensarmos num modelo de educação de vinte, trinta anos atrás, vamos nos lembrar de um professor de geografia falando sobre os movimentos da Terra, usando uma cartolina. Hoje, podemos usar vídeos, realidade aumentada, entre tantos recursos capazes de trazer um aprendizagem significativa para os estudantes; no entanto, eu daria um palpite, nem todos os educadores estão preparados.” destaca. “Um outro fator importantíssimo é o acesso a essas novas tecnologias. Num país em que muitos vivem numa situação de insegurança alimentar, como falar do uso de tablets em sala de aula? Ter um contato, mínimo que seja, com a ideia da robótica, amplia a visão dos alunos, estimula novos conhecimentos, cria oportunidades”, finaliza Rosiani.

Proibir as telas?

Vendo a partir de outro ponto de vista, apesar de a tecnologia ser uma ferramenta importante de apoio, o uso indiscriminado de celulares em sala de aula tem se mostrado um desafio significativo. Embora os dispositivos possam ser ferramentas poderosas de aprendizado, eles também são fontes de distração. Aplicativos de redes sociais e jogos competem com a atenção dos estudantes, dificultando a concentração nas atividades. Além disso, professores relatam como o uso da tecnologia pode criar barreiras na comunicação entre colegas e afetar a dinâmica da sala de aula, se não for comedido.

Luiz Fernando Barbosa, professor do Curso Técnico em Portos do Ifes Campus Cariacica, frisa a importância do uso responsável do celular. “Sempre brinco com os alunos, logo no início da aula, para guardarem os celulares dentro das mochilas, pois faz com que esteja perto quem está longe e longe quem está perto. O uso do celular dispersa o pensamento e o ambiente de diálogo que precede a formação do conhecimento. Não é questão de supervalorização do que chamam inovação; o processo de construção do conhecimento foi, é e será, o processo da interação humana em dialogar sobre o que ainda é incerto ou desconhecido para algum dos que estão dialogando”, destaca o professor.

Uso de redes sociais para navegação – Foto de Fernando Frazão/Agência Brasil

A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados Federais aprovou recentemente um projeto que visa proibir o uso de celulares em escolas de educação básica em todo o Brasil. A medida, que ainda aguarda tramitação nas demais instâncias do Congresso, reacendeu o debate sobre os impactos do uso da tecnologia no ambiente escolar. A proposta da Câmara busca responder a um desafio enfrentado por educadores: o impacto dos dispositivos móveis na concentração e no rendimento dos estudantes. Muitos professores relatam que o uso inadequado de celulares em sala de aula atrapalha a dinâmica das aulas, desvia a atenção dos alunos e dificulta a interação entre colegas.

Uma das alunas do Ifes, Victoria Luiz Gomes (nome fictício a pedido da estudante), comenta que existe uma diferença quando se trata de meios distintos. O celular é instrumento de distração bem maior do que um computador: “Com certeza o que mais notei foi a queda na concentração e produtividade. É muito mais fácil se distrair quando se tem um celular ao seu alcance. Existem alguns professores mais “rígidos” nesse quesito, e consequentemente a sala presta mais atenção nessas aulas (o que também depende do envolvimento do professor com os alunos). Entretanto, em muitas aulas realizadas em laboratórios de informática, o uso do computador auxilia em conhecimentos práticos do estudante e quase nunca são motivo de desvio de atenção”, diz Victoria.

Para alguns educadores, o caminho está no meio-termo: em vez de proibir, investir na formação de professores e na conscientização dos estudantes para o uso responsável da tecnologia. Programas que promovem a educação digital e políticas claras sobre quando e como os celulares podem ser usados em sala de aula têm se mostrado eficazes em várias partes do mundo.

A professora de sociologia Andreza Alves, conta que “as possibilidades da tecnologia são extremamente abrangentes, uma revolução de acesso ao conhecimento e a informações. Até brinco com a minha irmã que devia proibir os professores de usar o celular (risos). Ele distrai e toma muito de nosso tempo”, frisa. O uso do computador é melhor controlado que no celular, que eu acho, sim, que deve ser limitado, pois ele traz mais danos que benefícios.” Andreza também destaca que não é pela proibição, afinal, o ambiente acadêmico se estende para o meio eletrônico. “Jogos, softwares e os AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem) devem ser acessados pelos alunos”, finaliza.

A estudante Júlia, mexe em seu celular. Foto de Antônio Cruz/Agência Brasil

Enquanto o projeto avança na Câmara, o debate continua. O que parece ser consenso é que a discussão vai além da simples proibição: trata-se de encontrar um equilíbrio que permita às escolas usar o melhor da tecnologia, sem que ela comprometa o principal objetivo do ambiente escolar – o aprendizado. O professor Luiz Fernando fala mais um pouco sobre esta necessidade:

“Tudo tem duas faces e negatividades quando há excessos. As tecnologias, em especial, as TICs (Tecnologia da Informação e Comunicação) permitiram um amplo acesso à informação, a conteúdos que estão no mundo e, portanto, a diversos pontos de vista que podem, ou não, se transformar em conhecimento e aprendizado. Portanto, temos que aprofundar o direito ao acesso universal e gratuito das TICs e, principalmente, de formação dos formadores, para que não tornemos cidadãos e cidadãs altamente dependentes destas tecnologias, com a perda do pensamento analítico e crítico”, dispõe Luiz.

Mas… O que fazer?

A tecnologia, quando bem utilizada, pode transformar a sala de aula em um ambiente ainda mais dinâmico e interativo. Programas, aplicativos e plataformas digitais oferecem uma infinidade de possibilidades para enriquecer o aprendizado, desde jogos educativos que tornam o estudo mais divertido até ferramentas que ajudam a personalizar o ritmo de ensino para cada estudante. Sites com conteúdos interativos e simuladores virtuais podem complementar o currículo tradicional, incentivando a curiosidade e o pensamento crítico. Mais do que uma distração, a tecnologia tem o potencial de ser uma aliada poderosa – basta que professores e alunos sejam orientados sobre como utilizá-la de forma produtiva e responsável.

Foto de PCH Victor

Certos programas de computador e aplicativos podem ser diferenciais para o aprendizado de adolescentes e jovens, principalmente nas áreas técnicas. Ferramentas como plataformas de ensino personalizadas, jogos educativos e até aplicativos de realidade aumentada podem transformar conceitos abstratos em experiências práticas e visualmente rica. “Muitas pesquisas e propostas de trabalho só são possíveis por conta do desenvolvimento tecnológico. Eu realizei um projeto de pesquisa em que a temática era a aplicação de impressão 3d na indústria ferroviária, e só consegui buscar e extrair informações e realizar o projeto na prática (ou seja, modelar e imprimir peças) com auxílio da tecnologia”, Victoria comenta sobre seu aprendizado. “Atualmente, acho que o que mais me é útil são simuladores de experimentos físicos. Antes da visualização desses experimentos ser possível por meio de vídeos ou programas, o entendimento dependia única e exclusivamente da capacidade criativa do aluno”, finaliza a estudante.

Além disso, a tecnologia permite um ensino mais inclusivo, oferecendo recursos acessíveis a alunos com diferentes necessidades. Aplicativos de leitura, legendas automáticas e tradutores em tempo real são apenas alguns exemplos de como a tecnologia pode tornar o aprendizado mais democrático.

O verdadeiro segredo, porém, está na forma de aplicação. A tecnologia não deve substituir a interação humana ou a mediação pedagógica, mas sim complementá-las. Quando usada com planejamento e propósito, ela estimula a criatividade, o pensamento crítico e a autonomia dos estudantes. É fundamental, portanto, capacitar professores para que saibam integrar essas ferramentas ao ensino e ensinar os alunos a usá-las de maneira consciente e produtiva. Para o professor Luiz, até mesmo os programas do nosso dia a dia podem ser diferenciais na sala de aula: ” Os aplicativos de geo, como o GOOGLE EARTH, dão a imagem de onde estamos no mundo e o local onde está acontecendo algo importante. Como professor de disciplinas técnicas de operações de contêiner, o olhar o território onde se situa determinado porto e as conexões viárias pode ser a diferença entre o acerto e o erro”, conclui.

No fim, a tecnologia é apenas uma ferramenta – o verdadeiro impacto dependerá de como ela será utilizada para transformar o aprendizado em uma experiência enriquecedora.

Foto de Raw Pixel

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