Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)
Pesquisadores do Espírito Santo estão revolucionando o setor agrícola com uma descoberta inovadora que utiliza algas marinhas “arribadas” como matéria-prima para a produção de biofertilizantes. A proposta oferece uma alternativa ecológica aos fertilizantes químicos, que, embora amplamente usados, geram impactos ambientais significativos.
O estudo é um avanço significativo, não apenas para a ciência, mas também para práticas agrícolas mais verdes. As algas chamadas “arribadas” são aquelas trazidas naturalmente pelo mar com o movimento das ondas. O trabalho se propôs a criar uma solução que fosse benéfica não apenas para os agricultores, mas também para a saúde do meio ambiente e para a inovadora “Economia Azul” – uso responsável dos recursos do oceano.
Origem do Projeto
O projeto teve início nas areias da Praia de Piúma, no Espírito Santo, onde pesquisadores do Instituto Federal do Espírito Santo (IFES) começaram a investigar as algas que são trazidas pelo mar. Embora muitas pessoas considerem as algas um incômodo quando chegam à costa, para os cientistas elas representam uma rica fonte de nutrientes e uma solução potencial para a agricultura. As algas marinhas foram identificadas por engenheiros de pesca como uma possível matéria-prima para a criação de um novo tipo de adubo.
O trabalho de pesquisa, que já dura quatro anos, envolveu uma série de experimentos para descobrir a melhor maneira de processar as algas e extrair os benefícios nutricionais delas, transformando-as em um produto útil para o cultivo de plantas. Para isso, os cientistas lavam, trituram e coam as algas, preparando-as para a produção do adubo. A ideia de utilizar esse recurso local para promover práticas agrícolas mais responsáveis ambientalmente começou a ganhar força com a busca por alternativas para reduzir a dependência de fertilizantes sintéticos e seus efeitos nocivos ao solo e aos ecossistemas.

Processo de Produção
O processo de produção do biofertilizante a partir das algas marinhas envolve várias etapas cuidadosas. Inicialmente, cerca de 50% das algas na praia é coletada; essa porcentagem é importante para garantir que a natureza mantenha recursos para se renovar. Após a coleta, as algas são limpas para remover impurezas e preparadas para o processo de transformação. Elas são então submetidas a um processo de secagem e trituração, para facilitar a extração de seus nutrientes.
O passo seguinte envolve a utilização de técnicas de fermentação e compostagem, que permitem a liberação dos compostos orgânicos presentes nas algas, como minerais, vitaminas e hormônios naturais que favorecem o crescimento das plantas. O suco que resulta disso, rico em nutrientes essenciais para o crescimento das plantas, é combinado com conservantes para garantir que o produto tenha maior durabilidade sem perder suas propriedades. O resultado final é um fertilizante de alto valor nutritivo e baixo impacto ambiental.
Este biofertilizante não só proporciona uma alternativa de baixo custo para os agricultores, mas também contribui para a recuperação dos solos, ajudando na reposição de nutrientes essenciais, o que não ocorre com os fertilizantes químicos, que podem esgotar o solo ao longo do tempo. Além disso, a produção desse biofertilizante diminui a dependência de insumos sintéticos, que emitem gases de efeito estufa durante a fabricação e transporte.
Potencial para o desenvolvimento científico
As algas arribadas são grandes quantidades de algas marinhas, que se acumulam nas praias. Essas algas flutuam no oceano e, por diversas razões, acabam sendo trazidas pelas correntes marinhas e ventos para as zonas costeiras. O Professor Doutor Marlon França, especialista em Oceanografia, contou ao Portal ES365 os processos de transformação do material marinho em adubo e do potencial que isso representa para nossa agricultura e para o meio ambiente. Confira a seguir:
A chegada das algas nas zonas costeiras, especialmente, nos ambientes de praia é resultado, possivelmente, do aumento da temperatura na superfície do oceano, bem como em função da disponibilidade de nutrientes, mudanças climáticas e alterações na circulação das correntes marinhas.
No litoral do Espírito Santo a temática ganhou destaque com o desenvolvimento de um projeto intitulado “Vem da Maré: Biotecnologia de macroalgas no Espírito Santo, Brasil”, coordenado pelo Prof. Dr. Thiago Holanda Basílio.
O uso de algas arribadas na produção de fertilizantes representa um avanço significativo para a ciência capixaba e brasileira, unindo inovação, sustentabilidade e impacto econômico. A pesquisa desenvolvida pela AlgasBio, idealizada por Igor Fontes, engenheiro de pesca, demonstra que essas macroalgas, antes vistas como resíduos marinhos, podem ser transformadas em bioestimulantes naturais de alta performance, reduzindo a dependência de insumos químicos e promovendo uma agricultura mais sustentável. Além de contribuir para a economia circular, esse desenvolvimento fortalece o agronegócio nacional ao oferecer uma solução eficiente e acessível para aumentar a produtividade das lavouras. O Espírito Santo se posiciona, assim, como um polo de inovação em biotecnologia marinha, mostrando para o Brasil e para o mundo o potencial inexplorado das algas como aliadas da agricultura regenerativa e do desenvolvimento sustentável. Essa pesquisa abre caminho para novas oportunidades de negócios, geração de empregos e fortalecimento da economia local, ao mesmo tempo que coloca o estado na vanguarda de soluções ecológicas para o setor agrícola.
Portanto, as algas podem ser transformadas em fertilizantes orgânicos e bioestimulantes para a agricultura. Elas são ricas em nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes essenciais para o crescimento das plantas, gerando aumento na produtividade das culturas.
Impacto Ambiental e Potencial para o Futuro
O impacto dessa inovação vai além dos benefícios diretos para a agricultura. Ao reduzir o uso de fertilizantes sintéticos, o método proposto pelos pesquisadores capixabas pode contribuir para a diminuição da poluição das águas e a preservação da biodiversidade local. Além disso, ao aproveitar um recurso natural abundante, o projeto tem o potencial de criar uma cadeia produtiva sustentável, gerando emprego e estimulando o uso consciente dos recursos naturais.
Embora o projeto tenha começado no litoral capixaba, o impacto potencial vai além das praias do Espírito Santo. A aplicação do biofertilizante está sendo testada em fazendas no interior de São Paulo, onde foi possível observar melhorias significativas nas plantações. O método, portanto, pode contribuir para a agricultura regenerativa, que busca não apenas aumentar a produtividade, mas também restaurar a saúde dos ecossistemas.

Em um contexto global de crescente demanda por práticas agrícolas mais verdes, a descoberta no Espírito Santo oferece uma alternativa promissora para a agricultura sustentável, podendo se expandir para outras regiões e até mesmo se tornar um modelo para países que enfrentam desafios semelhantes.
A pesquisa ainda está em estágios avançados, mas os resultados obtidos até agora são promissores, com a expectativa de que o uso de algas marinhas como biofertilizante possa se consolidar como uma importante ferramenta para reduzir o impacto ambiental da agricultura.
O projeto de biofertilizante à base de algas marinhas é um exemplo claro de como a inovação e a sustentabilidade podem caminhar juntas, oferecendo soluções para problemas antigos, como o impacto ambiental dos fertilizantes químicos. À medida que o produto avança para o mercado, ele pode trazer uma nova perspectiva para o setor agrícola, favorecendo tanto o produtor quanto o meio ambiente. Com essa solução inovadora, os pesquisadores do Ifes de Piúma não apenas criam novas perspectivas para o setor agrícola, mas também contribuem para um futuro mais sustentável e equilibrado para as próximas gerações.