Internacionalização do Aeroporto de Vitória: um passo estratégico para o crescimento do Espírito Santo

Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)

O Aeroporto de Vitória é amplamente reconhecido pela movimentação constante eficiência. O terminal capixaba é um exemplo de bom funcionamento, com capacidade para 8,4 milhões passageiros por ano e movimenta diariamente uma média de 7 mil pessoas em cerca de 50 voos. Apesar de grandes números, o aeroporto da capital ainda enfrenta um grande desafio: a ausência de voos internacionais. Esse entrave representa um gargalo crucial para o desenvolvimento econômico e turístico do Espírito Santo, afetando diretamente setores estratégicos como a exportação de mármore e granito e a atratividade do estado para turistas estrangeiros.

A internacionalização do aeroporto não é apenas desejada, mas uma necessidade. A falta de voos internacionais impede que turistas estrangeiros cheguem ao estado com mais facilidade. Para um destino que tem tanto a oferecer em termos de cultura, belezas naturais e gastronomia, a ausência de uma conexão aérea internacional é um sério obstáculo. Não é apenas o turismo que sofre; os capixabas que desejam viajar para o exterior também enfrentam maiores dificuldades e custos com escalas longas, muitas vezes em outros estados.

Aeroporto de Vitória – Foto de Zurich Airport

Outro impacto relevante é a logística de regiões vizinhas, como o sul da Bahia e o leste de Minas Gerais, que dependem do Aeroporto de Vitória para realizar conexões internacionais. Governador Valadares é uma das cidades que mais utilizam o Aeroporto de Vitória, especialmente para conexões com brasileiros que moram nos Estados Unidos. Estima-se que entre 20.000 e 40.000 ex-moradores da cidade residam atualmente nos EUA, com um histórico de forte fluxo migratório. Em 1996, cerca de 33.468 valadarenses já viviam no país, representando aproximadamente 15% da população local na época, e atualmente, 1 em cada 4 eleitores da cidade mora nos Estados Unidos. Muitos desses emigrantes, assim como seus familiares, dependem do aeroporto capixaba para viagens internacionais. A ausência de voos diretos para o exterior dificulta essa movimentação, tornando as conexões mais demoradas e menos acessíveis, impactando não apenas os viajantes, mas também a economia regional que gira em torno desse fluxo migratório.

A falta de internacionalização do aeroporto também afeta diretamente a competitividade das empresas capixabas. Sem uma logística mais eficiente e rápida para o comércio exterior, o estado perde oportunidades valiosas para atrair investimentos estrangeiros e aumentar sua presença no cenário internacional. Empresas que necessitam de uma movimentação ágil de mercadorias se veem limitadas pelas dificuldades de transporte aéreo, prejudicando seu crescimento e sua competitividade em mercados globais.

O Espírito Santo, por exemplo, vai sofrer em 2025 uma grande perda com a transferência da Vitória Stone Fair, um dos maiores eventos internacionais do setor de rochas ornamentais, para o estado de São Paulo. A mudança foi impulsionada pela dificuldade logística enfrentada pelas empresas capixabas, que poderiam se beneficiar significativamente de conexões aéreas diretas com mercados globais, agilizando negócios e fortalecendo a competitividade do estado. Quando um aeroporto oferece rotas internacionais diretas, ele se torna um ponto de acesso para não só turistas, mas também para empresários que buscam expandir suas operações.

Perspectivas e Desafios

A internacionalização de aeroportos é um passo fundamental para o desenvolvimento econômico e turístico de nossa região, que já é destino de milhares de pessoas por todo o Brasil, todos os anos. No caso do Aeroporto de Vitória, a crescente demanda por voos diretos internacionais é um tópico relevante e com várias questões em aberto. A seguir, uma entrevista com representantes da Zurich Airport, concessionária do aeroporto, destaca os desafios e as estratégias para a internacionalização das operações aéreas na capital capixaba.

ES365: Existem negociações com companhias aéreas para a implementação de voos internacionais diretos a partir de Vitória?

Zurich Airport: Os estudos mostram que a demanda internacional ainda precisa evoluir para que desperte o interesse de uma companhia aérea operar um voo internacional. Neste momento, podemos dizer que é um planejamento de médio prazo. Em 2025, nossa área de Negócios Aéreos está focada no fortalecimento das rotas domésticas, que contribuem para fomentar a demanda internacional. É importante destacar que a decisão de iniciar uma nova rota é sempre da companhia aérea, que leva em conta uma série de aspectos, incluindo a demanda existente.

Quais critérios são considerados para tornar um aeroporto apto a receber voos internacionais? O Aeroporto de Vitória atende a esses requisitos?

Para receber voos internacionais, o aeroporto precisa atender a uma série de normas regulatórias. É necessário, por exemplo, contar com a presença de órgãos públicos, além de atender questões relacionadas à infraestrutura de operações, segurança e resposta a emergência, conforme determinados e aprovados pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). O Aeroporto de Vitória possui a infraestrutura necessária e cumpre todos os requisitos regulatórios para uma operação internacional.

A Zurich Airport vê o Aeroporto de Vitória como um potencial hub para regiões vizinhas, como o sul da Bahia e o leste de Minas Gerais?

Entendemos que o Aeroporto de Vitória ocupa uma posição estratégica na região. Os destinos mencionados são de grande importância, assim como outras áreas próximas, como o sul do Rio de Janeiro. Em nossas interações com as companhias aéreas, destacamos esse contexto, mas no momento não temos previsão de rotas regionais. Reforçamos que a decisão sobre novas rotas é da companhia aérea.

Existe diálogo com autoridades governamentais e empresas locais sobre a necessidade de voos internacionais?

Mantemos diálogos constantes com órgãos públicos e privados do setor turístico, pois uma atuação unificada é essencial para o fomento de voos internacionais. Realizamos reuniões trimestrais com a Secretaria de Turismo do Espírito Santo e fazemos visitas presenciais ao Governo do Estado. Nessas interações, levamos nossa visão sobre a importância de fortalecer as rotas domésticas para criar um ambiente favorável à internacionalização. Também trabalhamos em parceria com projetos para desenvolver o turismo no Espírito Santo. Recentemente, por exemplo, lançamos o projeto Vitória+, focado na divulgação das rotas turísticas do estado, com ações de promoção nas redes sociais com o apoio de influenciadores.

Aeroporto de Vitória – Foto de Zurich Airport Brasil

Como prosseguir?

Diante desse cenário, a internacionalização surge como uma solução estratégica para o Espírito Santo e para a capital. Essa mudança não só contribuiria para o fortalecimento da economia, mas também reforçaria sua posição no Brasil e no mundo, tornando o estado um atrativo turístico e econômico, acessível não apenas pelos portos. A discussão sobre os desafios e as possibilidades desse processo é fundamental para garantir que o estado não fique à margem do crescimento global, mas sim se coloque como um polo de oportunidades para o comércio, turismo e conectividade internacional.

O potencial do Aeroporto de Vitória é inegável. No entanto, conforme destacado na entrevista, é necessário que o Espírito Santo invista em políticas que incentivem a expansão das operações aéreas e, ao mesmo tempo, trabalhem para promover a região como um destino atraente para o comércio e o turismo internacional. Embora a realidade de voos diretos internacionais ainda esteja em fase de amadurecimento, as ações em curso – como o fortalecimento das rotas domésticas e o trabalho conjunto com órgãos governamentais e privados – são passos fundamentais para transformar o aeroporto em um ponto de conexão global.

O que está em jogo é o futuro econômico e a inserção do Espírito Santo no cenário global. Ao abrir suas portas para o mundo, o estado poderá criar novas oportunidades de negócios, atrair investimentos e, quem sabe, recuperar parte das oportunidades perdidas, como a Vitória Stone Fair. A internacionalização do aeroporto, portanto, não é apenas uma questão de infraestrutura, mas uma chave para a promoção da importância do Espírito Santo no Brasil e no mundo.

Interior do Aeroporto de Vitória – Foto de Zurich Airport

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