Mudanças à Vista: O que será da UTGSul para o Futuro Energético do ES?

Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)

A desativação da Unidade de Tratamento de Gás Sul Capixaba (UTGSul) marca o fim de uma cadeia produtiva do gás natural no sul do Espírito Santo. Situada em Anchieta, a unidade inaugurada em 2010 desempenhou um papel crucial no processamento do gás extraído na região, contribuindo significativamente para a economia local. Com o encerramento das atividades, surgem questões sobre o futuro do setor e os impactos socioeconômicos para as comunidades que dependiam direta e indiretamente da operação da UTGSul.

Enquanto a decisão é vista por alguns como parte de uma transição necessária para novas formas de energia, para outros, ela representa um desafio imediato: o medo da perda de empregos e o enfraquecimento da estrutura industrial da região. Com atividades interrompidas em Julho, ainda não há previsão para retorno de operação UTGSul.

A voz das Indústrias

A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) respondeu por meio de nota que as intenções para a unidade de tratamento ainda são incertas:

“A Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) acompanha de perto os projetos, investimentos e desafios do setor de petróleo e gás com objetivo de contribuir para o desenvolvimento do segmento e do ES. Na última semana, o presidente da Findes, Paulo Baraona, e representantes da Federação se reuniram com a Petrobras para falar sobre o tema e encontrar possíveis soluções sobre a UTGSul. Entre elas, a utilização da estrutura por outras empresas do setor. Além disso, foi assinado, no último dia 6, junto ao Governo do ES e a Petrobras, um protocolo de intenções para estudos de projetos de CCUS (captura, armazenamento e uso de CO2) e hidrogênio de baixo carbono. Um dos objetivos é avaliar a viabilidade para implantação de um HUB de CCUS e facilidades com foco na descarbonização das indústrias do Estado utilizando a estrutura do UTGSul.”

UTGSUL – Foto de Petrobrás

Em linha semelhante, a Companhia de Gás do Espírito Santo, ES Gás, comenta sobre como a desativação da unidade de tratamento não irá afetar a produção e distribuição no território capixaba. “A interrupção das atividades na UTGSul não oferece impactos operacionais à distribuição de gás natural no Espírito Santo. Essa é uma infraestrutura importante para o Estado e por isso está sempre no radar da ES Gás para análise de potencial aproveitamento, no entanto, atualmente não temos projetos ou parcerias focados em sua utilização”, a companhia afirmou via assessoria.

Voz dos Trabalhadores

Para além de projetos financeiros ou estruturais da UTGSul é preciso também zelar pelos trabalhadores do setor, que dentro das decisões das atividades da unidade, acabam sendo voz secundária. Sabendo da importância dos trabalhadores da unidade, a organização sindical dos petroleiros teve protagonismo na defesa dos trabalhadores da Unidade de Tratamento Sul Capixaba. Com a possibilidade de outras formas de geração de energia na UTGSul, como o hidrogênio, conforme afirmou o presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates, é preciso manter-se atentos para a manutenção dos empregos, tanto quanto das estruturas.

Etory Feller, Diretor de Comunicação do Sindipetro ES, concedeu entrevista e destacou as insistências feitas à Petrobras para que, mesmo que o nicho da unidade mude. Confira as respostas do Sindicato a seguir.

Etory Feller, Diretor de Comunicação do Sindipetro ES

ES365: Como a interrupção das atividades na UTGSul afetará os trabalhadores da unidade? Há previsão de demissões ou realocações?

Etory: Não há previsão de demissões, o SindipetroES foi insistente nesse ponto. Aos trabalhadores da Petrobras é assegurada a manutenção do emprego por meio de cláusula específica do ACT firmado com os sindicatos. Os empregados foram realocados da melhor maneira possível, com mediação do SindipetroES, equilibrando as necessidades da empresa e as expectativas dos trabalhadores. Para os trabalhadores do setor privado, foi assegurado um contingente mínimo para as atividades de segurança, preservação e manutenção da unidade.

A Petrobras mencionou a permanência de uma equipe de manutenção no local. Qual a opinião do sindicato sobre essa decisão?

Defendemos a permanência da operação da unidade inúmeras vezes, seja em agendas administrativas com a Petrobras, seja em debates políticos sobre o tema. O SindipetroES possui documento específico sobre a retomada do setor de gás no ES, já entregue ao Ministro da Indústria, Geraldo Alckmin. A permanência de uma equipe de manutenção é o mínimo necessário para garantir a integridade da planta industrial.

A Petrobras está avaliando alternativas para a UTGSul, como colocar a unidade à disposição de outras empresas. O sindicato vê isso como uma solução viável?

A UTGSUL é estratégica e pode desempenhar diversas atividades. É a única planta industrial da Petrobras na região sul do ES. O seu retorno operacional é possível com a retomada da produção de gás natural ou mesmo com atividades ligadas a transição energética. A planta pode produzir e processar hidrogênio, tratar e armazenar CO2 ou mesmo ser utilizada para produzir energia com menor pegada de carbono. Os investimentos da Petrobras ditarão os rumos dessa importante planta industrial no estado.

Como está o diálogo entre o sindicato e a Petrobras sobre esse e outros assuntos relacionados à operação e manutenção das unidades no Espírito Santo?

O SindipetroES cobra insistentemente o aumento dos investimentos no estado, apontando prioridades e oportunidades. O Espírito Santo precisa retomar o seu protagonismo na cadeia de óleo e gás e isso se faz com diálogo, investimentos e muito trabalho. Realizamos uma das maiores campanhas já vistas em terras capixabas: Petrobras Fica no ES! (petrobrasficanoes.com.br). E faremos outras mais sempre que necessário for para a defesa dos trabalhadores, da Petrobras e do Espírito Santo.

UTGSul do Futuro?

A desativação da UTGSul não se resume apenas ao fechamento de uma unidade industrial, mas é também marco na transição energética e econômica do Espírito Santo. À medida que a região sul do ES se adapta à nova realidade das diferentes fontes de energia (Hidrogênio entre estas possibilidades), as partes afetadas buscarão soluções para os desafios que surgem. Se por um lado o futuro é incerto, por outro, ele traz a oportunidade de repensar o desenvolvimento local, explorando novas possibilidades e formas de crescimento sustentável. O que vem a seguir vai depender de como essas transições serão geridas, tanto pelo poder público quanto pela sociedade.

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