Voto Inteligente? O futuro do ES a partir das eleições municipais

Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)

À medida que o calendário se aproxima das eleições municipais de 2024, os cidadãos se preparam para escolher seus representantes nas câmaras municipais e nas prefeituras. O horário eleitoral obrigatório passa todos os dias na televisão, mas conhecer as propostas dos candidatos e saber como eles querem ajudar realmente os lugares e as pessoas é um ponto chave para decidir quem você quer à frente da sua cidade. Essa é a sua chance de decidir quem vai cuidar do seu município nos próximos anos, influenciando desde a saúde pública até a infraestrutura urbana. Quem você acha que vai ganhar a sua confiança?

É fundamental entender as atribuições de cada cargo antes de decidir o voto. O prefeito é o responsável por gerir o município, garantir a execução de políticas públicas e administrar os recursos. Já os vereadores atuam como fiscalizadores do executivo e têm o poder de legislar em benefício da cidade, propondo e aprovando leis. Mas, será que apenas confiar no marketing político é suficiente para escolher prefeitos e vereadores? Entender o que esses cargos realmente fazem e como impactam o dia a dia da população é essencial para um voto consciente. O especialista em política e campanhas eleitorais Darlan Campos, em contato com o Portal ES 365 falou um pouco sobre a importância de se conhecer os candidatos e estar atento para as propostas e promessas.

Darlan Campos – Foto de Rede Social

“A decisão de voto por parte do eleitor não é uma decisão baseada em um fato, ela é uma construção como a construção de um muro, tijolinho por tijolinho. Então a partir de uma série de impactos e de estímulos que o eleitor vai tendo, ele vai se convencendo sobre determinado candidato. E, nesse sentido, a gente tem que sempre tomar o cuidado a respeito da desinformação, então buscar, checar bem as fontes de informação no qual os dados e as perspectivas chegam até nós é fundamental para evitar que a gente caia em fake news ou desinformação”, Darlan frisa, explicando a necessidade de saber em quem e que canais de informação confiar.

É sempre bom lembrar que a realidade local dos eleitores também influencia sua escolha política. No entanto, os vereadores e prefeitos estarão cuidando de todos os bairros da cidade. “O voto, de alguma forma expressa um sentimento e uma vivência de cada eleitor, seja um olhar de oposição à atual administração da sua cidade, no sentido de perceber que é um momento de mudar, de colocar um outro estilo de gestão e de ação ou no sentido de continuar este modelo. Se ele aprova, se ele acha que os resultados foram bons, ele vai tender a aprovar”, comenta Darlan. O especialista também destaca que é preciso manter os pés no chão e analisar com calma as propostas. “Avaliar o plano de governo é importante, as propostas que cada um está fazendo, especialmente a efetividade. É preciso avaliar o quanto muitas vezes podem ter propostas que fogem um pouco da normalidade e que são pouco exequíveis. Analisar essa perspectiva é fundamental por parte dos eleitores”, finaliza.

Por que a Propaganda Não Basta?

A propaganda eleitoral tem um papel importante na comunicação com o eleitor, mas ela muitas vezes esconde pontos fracos ou foca em propostas superficiais. Saber quem é o candidato além das promessas de campanha exige pesquisa, entendimento sobre seu histórico e um olhar crítico sobre as propostas. Além disso, não podemos esquecer dos temas mais falados: segurança, transporte e educação. Todo mundo quer soluções práticas e que funcionem de verdade. E a pergunta que não quer calar: como esses candidatos vão fazer isso?

Em entrevista, o filósofo, professor de filosofia e analista político Mauricio Abdalla, contou um pouco mais do porque é tão importante estar atento aos candidatos dentro e fora da política. É preciso conhecer as propostas mas também estar ‘ligado’ às funções de vereadores e prefeito.

ES365: Quais fatores os eleitores devem considerar ao analisar as propostas dos candidatos para entender melhor se elas são viáveis?

Maurício Abdalla: A primeira coisa é observar se as coisas que a pessoa está prometendo é de competência do poder que ele está pleiteando. Por exemplo, uma pessoa que está pleiteando o cargo de vereador, ele é do poder legislativo. Então ele não faz obras, ele não faz gestão sobre o orçamento, onde vai ser aplicado as obras. Ele tem participação, ele aprova a lei do orçamento, ele pode propor emendas, mas a gestão mesmo da cidade é do prefeito, a execução de obras é do prefeito. O prefeito tem que analisar a cidade como um todo e como proteger a cidade dos problemas futuros e dos problemas que estão aí batendo a porta. Com relação a meio ambiente, por exemplo. Ele também deve ter uma discussão a respeito da mobilidade urbana que é coisa que não se faz com uma obra aqui ou ali. A segunda, é que é preciso analisar o que o candidato pensa a respeito da política pública de educação, de saúde. Enfim, ele não pode ficar preso a uma promessa de uma obra, de uma escadaria no morro, de um embelezamento de um canto da cidade, ou da construção de uma praça, de uma orla, alguma coisa assim. E sim, tentar ver se ele tem projetos com relação aos problemas estruturais da cidade, principalmente agora, nesse momento relacionados a meio ambiente.

Maurício Abdalla – Foto de Rede Social

E a terceira coisa, que deve valer tanto para prefeito quanto para vereador, é estar atento se a pessoa está muito presa aos temas morais. A Câmara Municipal, por exemplo, não pode legislar sobre política educacional daquelas que estão relacionadas já ao que está definido da LDB [Lei de Diretrizes de Bases da Educação]. O candidato eleito pode falar sobre a questão das escolas, pode falar sobre políticas públicas relacionadas à educação, mas não de políticas educacionais, o que cabe ao Congresso Nacional. Então é isso, é ver se o discurso do prefeito e o vereador está conectado ao cargo que ele vai exercer e aquilo que é a função de cada cargo.

Como a mídia e as redes sociais podem ajudar (ou atrapalhar) o eleitor a conhecer melhor os candidatos?

As pessoas sabem o que é a função para poder cobrar se ele fez ou não alguma coisa. Então o papel fundamental da mídia é mostrar a função desses cargos, educar a respeito da política como um todo, fazer programas especiais mostrando o que pode e o que não pode um prefeito, o que pode e o que não pode um vereador e um prefeito. Hoje, São Paulo é um exemplo. Ficar valorizando o espetáculo, aqueles os absurdos que acontecem para poder fazer cortes na internet acaba conseguindo muita mídia. Por exemplo, Pablo Marçal em São Paulo virou o foco da mídia e debates se multiplicaram muito mais por causa da presença dele do que propriamente da apresentação de propostas. Então era preciso fazer, por exemplo, antes de cada eleição municipal, especiais falando sobre os problemas estruturais da cidade e como um vereador e um prefeito poderiam incidir nesses problemas. Essa educação de base da consciência política do povo seria fundamental para que as pessoas possam tomar a sua decisão de forma mais consciente. E nisso a mídia contribuiria se deixasse para lá os escândalos e fizesse mais um papel educativo e especiais, reportagens especiais sobre soluções para a cidade e a função de cada um.

Em tempos de desinformação, quais são as melhores estratégias para que o eleitor consiga fazer uma escolha consciente?

O eleitor precisa estar, primeiro, antenado à dinâmica política, à realidade política do seu município, do seu estado, do seu país, o tempo todo, não só em época de eleição. O eleitor que fica esperando as vésperas da eleição para escolher candidato, é a mesma coisa daquela pessoa que não assiste futebol e quer entender de seleção brasileira só na época de Copa do Mundo. Se ele não acompanha os times, se não acompanha os jogadores, os técnicos, o desempenho de cada jogador, ele não vai ter condição de chegar na época da Copa do Mundo e ficar dando palpite. Assim também na política, a gente não pode deixar para poder falar sobre política só na época de eleição.

Tem que acompanhar, tem que saber o que os candidatos, o que os vereadores estão fazendo, o que os deputados estão fazendo. É necessário acompanhar a política o tempo todo e, principalmente, valorizar aquelas pessoas que não que aparecem do nada ou que são famosas de Instagram, televisão; mas aquelas que estão lá na associação de moradores, nos sindicatos, que tem um envolvimento com a política fora de época de eleição. Esses sim são aqueles que estão preocupados de fato com a realidade social tanto do bairro como do município e da política de modo geral.

Como compreender melhor se um candidato realmente se preocupa com a população?

É bom lembrar que, mesmo que nossa vivência de bairro influencie nosso voto, o vereador não é representante de bairro, porque não existe a mesma quantidade de vereadores que tem de bairro no município. Vitória vai agora para 21 vereadores e tem 83 bairros. O vereador atua na cidade inteira, sendo fiscal do prefeito. Ele deve estar representando todos os moradores da cidade.

E os Candidatos?

Além das propostas, questões como segurança, transporte e educação estão no centro das discussões. A população busca por soluções práticas e imediatas, enquanto os candidatos tentam se distanciar de promessas vazias, buscando apresentar planos concretos. Os eleitores precisam estar informados sobre os candidatos e suas propostas, para que possam fazer escolhas conscientes. As eleições municipais são uma oportunidade de moldar o futuro da cidade nos próximos quatro anos e além – cada voto conta.

Foto de Edson Rodrigues, Agência Senado

Crislayne Zeferina é candidata a vereadora em Vitória e mostra sua trajetória enquanto “Voz da periferia”: “O principal motivo que me influenciou a entrar para a política foi a dificuldade de alguém que represente a periferia e não se venda pelo aparelho estatal. A má gestão orçamentária e a falta de transparência real do recurso; as enormes filas nos postos de saúde; a qualidade das escolas e a lista enorme (que o povo não vê) do aluguel social. Tudo isso me incentiva a querer propor mudanças para nossa cidade. Com um mandato participativo e audiências públicas com o nome fala morador nas comunidades, eu acredito que a população e a Câmara Municipal podem manter um diálogo constante”, completa.

Sebastião Luiz, também candidato na capital conta como sua carreira vem desde 2003, quando foi presidente comunitário. “Entrei na Associação de Moradores em 2003 como diretor de Patrimônio. Virei vice Presidente e já fui votado por quatro vezes como Presidente da Associação de Moradores do bairro Gurigica/Jaburu. Após muitas lutas como líder decidir vim a vereador para ajudar minha cidade ainda mais, usando minha experiência de líder em minha comunidade de Jaburu e no Território do bem. Sinto que é preciso fiscalizar, para saber onde os recursos são aplicados e de uma forma correta e sem lesões aos cofres públicos. Sendo eleito vou criar um projeto com o nome Me Chama que Vou, indo aos bairros e ouvir a população sobre as suas demandas diárias e levar ao executivo para que seja resolvido; o povo precisa saber que dentro da câmara tem gente agindo em prol da cidade!”, conclui.

Conhecer a trajetória política dos candidatos é tão importante quanto entender suas propostas. A experiência prévia em cargos públicos ou em áreas relacionadas à gestão pública pode revelar o preparo do candidato para lidar com a complexidade da administração de uma cidade. Além disso, a trajetória política também pode mostrar o seu comprometimento com causas importantes para o município, assim como a sua capacidade de entregar resultados concretos. Uma jornada consistente, baseada em um histórico de trabalho para o bem comum dos cidadãos do município, sem excluir ninguém, traz mais segurança ao eleitor de que o candidato tem condições de transformar propostas em realidade.

Votar consciente é mais do que apenas escolher um nome. A qualidade da gestão municipal influencia áreas como saúde, educação, infraestrutura e segurança. Eleger candidatos preparados e comprometidos pode significar um futuro melhor para a cidade e para seus moradores. Fique atento e participe! As eleições são uma oportunidade de fazer a sua voz ser ouvida. Seu voto pode mudar sua cidade. Então, se informe, debata com os amigos e, na hora H, faça a escolha certa!

Zona eleitoral, eleições – Foto de Rovena Rosa/Agência Brasil

Compartilhe