Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)
A falta de infraestrutura nos hospitais estaduais do interior do Espírito Santo tem causado uma sobrecarga nos hospitais da Grande Vitória, resultando em longas filas e dificuldades no atendimento de pacientes que necessitam de tratamento especializado. Com a escassez de leitos e recursos nos municípios do interior, muitos moradores precisam se deslocar para a capital em busca de atendimento, agravando a situação já crítica na rede pública de saúde.
De acordo com especialistas, a escassez de leitos hospitalares no interior do estado é um reflexo de uma infraestrutura precária, com unidades de saúde municipais que, por vezes, não possuem capacidade para atender a demanda crescente da população. Como resultado, os pacientes são forçados a enfrentar longas distâncias para obter tratamento adequado nos hospitais da Grande Vitória, que já estão saturados. Em muitos casos, os pacientes do interior precisam esperar semanas ou até meses para conseguir uma vaga nos hospitais da capital. Esse deslocamento, além de dificultar o acesso ao atendimento, aumenta o risco de complicações para quem já enfrenta problemas de saúde graves.

A necessidade de agir
O estado não deve mais adiar a solução para o déficit de leitos, uma questão que, se não resolvida, continuará a comprometer a vida e o bem-estar dos capixabas. A ampliação do número de leitos para internação (principalmente fora da Grande Vitória) é urgente e depende não apenas de mais investimentos, mas também de uma distribuição mais equitativa dos recursos. Enquanto isso, a população, especialmente nos municípios do interior, segue enfrentando dificuldades para acessar o atendimento adequado em suas cidades e distritos; A transparência no processo de ampliação, junto ao investimento em infraestrutura e parcerias, é essencial para garantir que todos os capixabas tenham direito a uma saúde de qualidade, sem depender da sorte de uma vaga em hospitais superlotados.
A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) conta algumas estatísticas que demonstram o motivo do déficit enfrentado por todo o Estado. “A maioria dos leitos SUS estão na Região Metropolitana de Vitória (Capital, Vila Velha, Serra, Cariacica, Fundão e Guarapari), que, segundo o Censo 2022, concentra 49% da população do Estado.” A Sesa também afirma que, apesar dos dados, a cobertura é ampla. “Considerando que o Estado é pequeno em relação às suas dimensões geográficas, o transporte sanitário proporciona atendimento dentro da macrorregião de saúde dos pacientes”, conta.
A situação é ainda mais alarmante para aqueles que necessitam de atendimentos urgentes. Pacientes com doenças graves, como câncer, doenças cardíacas ou com necessidade de procedimentos cirúrgicos, são frequentemente encaminhados para a Grande Vitória, onde o número de leitos na rede pública de saúde já é insuficiente para atender à demanda. “Com a demanda crescente por atendimento hospitalar, o Espírito Santo já vive um cenário preocupante, onde os índices de mortalidade por causas evitáveis, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC), podem aumentar devido à falta de leitos adequados”, afirma a professora de saúde pública e pesquisadora, Dra. Luiza Andrade. “Além disso, muitos pacientes precisam ser transferidos para outras regiões, o que agrava o quadro e aumenta o tempo de espera”, completa.

Desafios do Governo Estadual
Em meio aos desafios enfrentados pelo sistema de saúde no Espírito Santo, a questão do déficit de leitos hospitalares se destaca como um dos problemas mais urgentes. A falta de infraestrutura e a desigualdade na distribuição desses leitos impactam diretamente a qualidade do atendimento à população. Para entender melhor a situação atual e as medidas adotadas pelo governo estadual, conversamos com a Secretaria de Saúde do Espírito Santo, que, em sua fala contou como o governo do ES tem lidado com os problemas apontados. “Atualmente, o Espírito Santo possui um giro de leitos inteligente e moderno para que 6.030 leitos SUS (parte deles sob gestão da Sesa) tenham, sob a supervisão de uma equipe técnica de saúde especializada, um uso eficiente e que atende com qualidade os pacientes do Sistema Único de Saúde. O Governo do Estado trabalha em todas as frentes com o foco na ampliação dos leitos existentes. Uma delas é a construção de novos e ampliação de hospitais da rede estadual; Outra, é no fechamento de parcerias para contratualização de leitos”, explicou.
O governo do Espírito Santo afirma que está comprometido com a melhoria da infraestrutura hospitalar. A Sesa anunciou a construção de novos hospitais e a ampliação de unidades existentes, mas reconhece que os investimentos ainda são insuficientes frente à crescente demanda:
- Complexo Norte de Saúde: está sendo construído em uma área de 37.590 metros quadrados, sendo a área do terreno de 216.683 metros quadrados no município de São Mateus, às margens da BR-101. O complexo contará com um novo hospital com 340 leitos (34,5% de conclusão), a Superintendência Regional de Saúde (SRS), o Centro Regional de Especialidades (CRE), a Farmácia Cidadã Estadual, o Hemocentro Regional, o Centro de Ensino, a Rede de Frio, os Laboratórios da Vigilância Sanitária e o Centro de Imunobiológicos Especiais (CRIE). Total do complexo: R$ 367,9 milhões.
- Novo hospital de Colatina: em fase de anteprojeto para abertura de um hospital regional com 300 leitos. Investimento estimado em R$ 270 milhões.
- Reestruturação do Hospital João dos Santos Neves (HJSN), em Baixo Guandu: ampliação de 64 para 80 leitos, acréscimo de unidades de internação para cuidados prolongados e saúde mental, readequação da infraestrutura física com aumento de 100% na área construída com novo edifício com três pavimentos e previsão futura de mais um andar para implantação de novos centro cirúrgico, central de material esterilizado e áreas administrativas. Total: R$ 54 milhões.
- Ampliação e reforma do Hospital Estadual São José do Calçado: em fase de projeto. Investimento de R$ 15 milhões.
- Ampliação e reforma do Hospital Estadual dr. Alceu Melgaço Filho, em Barra de São Francisco, em fase de anteprojeto. Obra estimada em R$ 23 milhões.
- Ampliação e reforma da Unidade Integrada de Jerônimo Monteiro, em fase de anteprojeto. Obra estimada em R$ 13,8 milhões.
O Governo do ES também frisa que, neste ano, a Sesa já inaugurou a reforma do Centro Cirúrgico do Hospital Estadual Roberto Arnizaut Silvares (HRAS), em São Mateus, com R$ 14 milhões. Contudo, o desafio não está apenas na ampliação física dos hospitais, mas também na falta de planejamento e transparência na divulgação dos números. Não há, até o momento, um levantamento oficial atualizado sobre a necessidade exata de leitos por município ou uma previsão de quando todos os municípios terão leitos de UTI disponíveis.
A Importância dos Hospitais Públicos
A situação também impacta diretamente os profissionais de saúde, que enfrentam uma pressão crescente para atender um número cada vez maior de pacientes com recursos limitados. Isso tem gerado um desgaste físico e emocional entre médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da saúde, que enfrentam dificuldades para oferecer um atendimento de qualidade em um cenário de superlotação. A carência de leitos hospitalares públicos no Espírito Santo tem sido uma pauta constante entre os gestores de saúde do estado, mas a solução para o problema parece ainda distante. Embora haja investimentos em ampliação de unidades hospitalares na Grande Vitória, a falta de infraestrutura e recursos nos hospitais do interior continua sendo um desafio para o sistema de saúde estadual.
Enquanto isso, pacientes do interior do Espírito Santo continuam enfrentando dificuldades para receber o atendimento necessário, agravando a crise na saúde pública do estado. “É urgente que o governo do estado invista em mais leitos e infraestrutura nos hospitais do interior. Só assim poderemos reduzir a superlotação na capital e garantir que todos os cidadãos tenham acesso ao atendimento médico de qualidade, independentemente de onde moram”, conclui a Dra. Luiza Andrade

No entanto, é preciso frisar a importância de hospitais dedicados exclusivamente ao atendimento de pacientes pelo Sistema Único de Saúde e com atendimento aberto a todos os capixabas, sejam eles da Grande Vitória ou não; alguns dos maiores exemplos são o Hospital São Lucas e o Hucam, conhecido como Hospital das Clínicas . “O Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo (Hucam-Ufes) é uma instituição pública da área da saúde que desenvolve atividades de ensino, pesquisa e assistência. Com 244 leitos hospitalares, os quais são ofertados integral e exclusivamente ao Sistema Único de Saúde (SUS), a instituição encontra-se em uma posição estratégica na Rede de Atenção à Saúde (RAS), sendo referência em média e alta complexidade. Enquanto integrante da RAS no Estado do Espírito Santo, o Hucam-Ufes possui parceria com a Secretaria de Estado de Saúde, viabilizando a oferta de serviços assistenciais para melhorar a vida de milhões de cidadãos capixabas e para o fortalecimento do SUS”, conta a diretoria do Hospital das Clínicas.
Soluções Para o Futuro
A expansão e aprimoramento do sistema de saúde pública dependem de um conjunto de medidas integradas que visam a qualidade e o alcance dos serviços oferecidos à população. Dentre essas estratégias, a ampliação dos hospitais públicos, o fortalecimento das parcerias público-privadas e a realização de concursos públicos para a contratação de profissionais especializados se apresentam como soluções essenciais. Essas ações não apenas buscam aumentar a capacidade de atendimento, mas também garantir que os recursos humanos e estruturais estejam preparados para atender a uma demanda crescente e diversificada, promovendo um sistema de saúde mais eficiente e acessível para todos.
Um dos caminhos sugeridos para mitigar o problema seria a regionalização da saúde. A ideia é investir em hospitais e unidades de saúde nas regiões do interior, reduzindo a dependência da Grande Vitória. Isso ajudaria a descentralizar os atendimentos e permitiria que mais pessoas tivessem acesso a cuidados médicos próximos de suas residências. Outra proposta que vem ganhando força são as parcerias público-privadas (PPPs), que poderiam viabilizar a construção de novos leitos e a manutenção das unidades já existentes.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) conclui seu pensamento destacando outras iniciativas estratégicas que vêm sendo adotadas para fortalecer o sistema de saúde pública. Entre as soluções em destaque, estão a implementação de novos protocolos de atendimento, a modernização da infraestrutura hospitalar e o incentivo à capacitação contínua dos profissionais da saúde:
“Com a ampliação dos hospitais e construção de novos espaços, o atendimento vai ficar mais próximo da casa dos pacientes. Em 2024, a Sesa avançou na autorização para realização de concurso público; foram nomeados analistas do executivo concursados em diversas áreas de formação; encerrou o contrato de DTs nos Hospitais Dr. Dório Silva, Hospital e Maternidade Silvio Avidos, ambos com a gestão da Fundação Inova, e 640 DTs assistentes administrativos na Sesa foram substituídos com a contratação da empresa MGS. Essas ações são fruto de um trabalho para desprecarização dos vínculos temporários na saúde”, comenta. “Para 2025, está prevista a realização do concurso público, já autorizada pelo governador Renato Casagrande, para hospitais, o Centro de Hemoterapia e Hematologia do Espírito Santo (Hemoes), a Vigilância em Saúde, Laboratório Central de Saúde Pública do Estado do Espírito Santo (Lacen-ES), entre outras unidades afins. O processo encontra-se em fase de aprovação do Parecer Técnico da Comissão de Concurso Público Sesa. Há a previsão de que mais hospitais estaduais passem para administração da Fundação Inova, reduzindo ainda mais o número de DTs, bem como o aumento de nomeações de analistas concursados para a Sesa”, finaliza.
A Sesa segue comprometida em transformar desafios em oportunidades, buscando alternativas eficazes para garantir um atendimento de qualidade à população.
