Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)
O desastre ambiental em Mariana, ocorrido em 2015 com o rompimento da barragem de Fundão, mudou drasticamente a vida de milhares de ribeirinhos da região do Rio Doce. O rio, antes uma fonte de recursos naturais e sustento para inúmeras famílias, foi severamente contaminado por rejeitos de mineração, afetando a pesca, a agricultura e o abastecimento de água. Anos após o desastre, os impactos da poluição ainda são visíveis, especialmente nas comunidades que viviam à margem do rio.
A lama tóxica, cerca de 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro, conforme o Ministério Público de Minas Gerais, percorreu dezenas de quilômetros, destruindo habitats e causando danos irreparáveis ao meio ambiente e à vida das comunidades ribeirinhas. Para os moradores das margens do Rio Doce, no Espírito Santo, essa tragédia não significou apenas a contaminação do rio, mas a perda de suas fontes de sustento e de uma relação ancestral com as águas. A pesca, a agricultura familiar e o turismo local foram duramente impactados, tornando a recuperação econômica e ambiental um desafio contínuo.

Semear o futuro
Diante dessa realidade, programas de capacitação e geração de renda se tornam essenciais para a recuperação e desenvolvimento da população das margens do Rio Doce. Iniciativas que promovem o desenvolvimento sustentável e a educação ambiental ajudam os ribeirinhos a se adaptarem às mudanças no ecossistema e a encontrar alternativas econômicas, além de incentivar o empreendedorismo local. Também, essas ações promovem uma relação mais consciente com os recursos naturais, essenciais para a reconstrução do futuro dos ribeirinhos.
O Projeto Sementes do Rio Doce se destaca como uma iniciativa importante nesse processo. O projeto busca não apenas mitigar os impactos ambientais através do reflorestamento e da recuperação das matas ciliares (Rede de Sementes e Mudas do Rio Doce), mas também capacitar os ribeirinhos para desenvolverem práticas agrícolas sustentáveis, promoverem o empreendedorismo local e se adaptarem às novas realidades impostas pela degradação do rio.
Concedendo entrevista ao ES 365, o Projeto Sementes do Rio Doce descreveu de que forma a capacitação profissional é ferramenta para o crescimento das comunidades dos arredores do Rio, em todo o Espírito Santo, com o apoio do governo estadual.
PORTAL ES365: De que forma o Sementes do Rio Doce colabora com outras iniciativas de restauração e inovação no Espírito Santo?
SEMENTES: O Sementes do Rio Doce nasceu da parceria entre o Governo do Estado do Espírito Santo, através da Secretaria da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional (SECTI-ES) e a Fundação Renova, entidade responsável pela mobilização para a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), em 2015.
O programa atuará em nove municípios capixabas: Aracruz, Baixo Guandu, Colatina, Conceição da Barra, Fundão, Linhares, Marilândia, São Mateus e Serra. Seu objetivo principal é promover o ecossistema de empreendedorismo e inovação no Espírito Santo, por meio de até 50 projetos de inovação de startups, com potencial de colaborar na solução de desafios regionais e locais. Cada projeto selecionado vai receber R$ 100 mil e será acelerado ao longo de 6 meses. Ao todo serão investidos R$ 7,6 milhões por meio da SECTI/Fapes.
Programas de aceleração têm um impacto significativo em todo o ecossistema empreendedor regional, indo além das próprias startups em aceleração. No caso do Sementes, espera-se um forte impacto socioambiental, mudando vidas e gerando valor nos municípios atingidos.

Como o projeto envolve as comunidades ribeirinhas na execução das ações de restauração e empreendedorismo?
O programa já foi lançado, oficialmente, em Vitória, Colatina e Aracruz, onde foi apresentado para comunidades acadêmicas, instituições de ensino e associações diversas ligadas ao meio ambiente. A partir da contratação da empresa aceleradora, o programa começará a atuar no diagnóstico local, promovendo a aproximação com os públicos alvos, levando informação e capacitação para os interessados em participar do projeto.
Que tipo de capacitação os moradores locais recebem e como isso impacta diretamente suas vidas e a economia da região?
A partir da contratação de empresa aceleradora, o programa vai oferecer ações de formação e capacitação de empreendedores, com o objetivo de desenvolver nos novos empreendedores habilidades e conhecimentos específicos, que são essenciais para o sucesso de suas empresas, incluindo habilidades de liderança, gestão, comunicação, marketing, vendas e finanças.
Quais são os desafios enfrentados pelo projeto no que diz respeito à implementação das soluções ambientais e socioeconômicas?
O programa encontra-se, atualmente, na segunda fase de sua implementação, com edital de contratação de aceleradora em fase final de contratação, que fará os diagnósticos necessários, avaliando riscos e desafios na sua execução. Espera-se, com ações de comunicação, capacitação e realização de eventos locais, atrair o maior número de interessados, que apresentem ideias que tragam soluções para os desafios que poderão ser enfrentados.
Formar e Transformar
Através da formação em técnicas sustentáveis e da promoção de uma nova relação com o meio ambiente, o Projeto Sementes do Rio Doce permite que essas populações não apenas se recuperem da perda de seus modos de vida tradicionais, mas também consigam criar novas fontes de renda e desenvolvimento. Segundo o Governo do ES, o Projeto “tem o objetivo de desenvolver nos novos empreendedores habilidades e conhecimentos específicos, que são essenciais para o sucesso de suas empresas, incluindo habilidades de liderança, gestão, comunicação, marketing, vendas e finanças”. Além de gerar impacto econômico, programas como esse fortalecem o vínculo com a natureza e incentivam a preservação, assegurando que o Rio Doce possa um dia voltar a ser uma fonte de vida e sustento para todos.

Diante dos desafios e das oportunidades que a recuperação do Rio Doce apresenta, é essencial que ciência, tecnologia e inovação caminhem lado a lado com políticas públicas eficientes. A participação ativa da Secti-ES, por meio de parcerias com centros de pesquisa e iniciativas sustentáveis, reforça a importância de um olhar mais atento e estratégico para a restauração da bacia do Rio Doce. Contudo, a recuperação completa do rio não se limita apenas às inovações tecnológicas ou ao compromisso governamental; ela requer o envolvimento de toda a sociedade.
O secretário Bruno Lamas, responsável pela Secti destaca a importância do Projeto Sementes do Rio Doce, tanto para a população ribeirinha quanto para o desenvolvimento do povo capixaba: “O sementes é uma importante ação do Governo do Estado em parceria através da Secretaria da Ciência e Tecnologia, um investimento em ideias inovadoras e empreendedoras que vão melhorar o ambiente impactado com o desastre de Mariana. A questão é fomentar ideias empreendedoras na área da saúde, meio ambiente e agricultura, na área da educação, ou seja, ideias empreendedoras inovadoras que vão contribuir para melhorar, para transformar, firmar soluções modernas para impactar positivamente a região”, frisa. “Além disso, é um programa de aceleração que, naturalmente, transforma a boa ideia de uma startup em uma empresa que vai produzir, gerar trabalho, emprego, renda, como tantos exemplos que nós temos no Espírito Santo”, finaliza.
Enquanto seguimos acompanhando os avanços científicos e as políticas ambientais, fica a reflexão: até que ponto estamos dispostos a mudar nossos hábitos e políticas de desenvolvimento em prol de um futuro mais sustentável? O destino do Rio Doce, assim como de tantos outros ecossistemas ameaçados, depende das escolhas que fazemos hoje. E são as comunidades mais próximas a esses recursos que, mais do que nunca, nos mostram que o caminho para um futuro mais equilibrado está ao nosso alcance.
