Eucalipto, água e crise climática: A Suzano está secando o Espírito Santo?

Por Sabrina Ruela (sabrina@es365.com.br)

A expansão das plantações de eucalipto no Brasil, especialmente com grandes áreas de monocultura, tem se tornado um tema polêmico e frequentemente debatido. A Suzano, maior produtora de celulose do mundo, é uma das empresas mais associadas a esse processo, devido à sua grande presença no setor de produção de papel e celulose.

O crescimento das plantações de eucalipto é uma faca de dois gumes. Enquanto essas plantações podem ajudar a capturar carbono e contribuir para o aumento da oferta de papel e celulose de maneira mais sustentável, elas também podem agravar os impactos negativos no meio ambiente se não forem manejadas corretamente.

Uma das maiores críticas direcionadas à expansão do cultivo de eucalipto está relacionada ao seu consumo de água. Como uma árvore que cresce rápido e em grande escala, o eucalipto requer uma quantidade significativa de água para seu desenvolvimento, especialmente em regiões onde os recursos hídricos são limitados.

Em áreas como o semiárido brasileiro e regiões de cerrado, onde os recursos de água já são naturalmente escassos, as plantações de monocultura de eucalipto podem ter um impacto significativo nos lençóis freáticos e nos pequenos rios que alimentam as comunidades locais. A evaporação da água das grandes áreas de eucalipto, somada ao fato de que as árvores competem com a vegetação nativa por recursos hídricos, contribui para o ressecamento de solos e a diminuição da quantidade de água disponível para a população.

Suzano – Foto de divulgação, Suzano

O papel da Suzano na crise climática

Apesar das críticas, a Suzano afirma que vem adotando uma série de medidas para reduzir o impacto ambiental de suas plantações. A empresa implementa um modelo de manejo florestal que busca equilibrar a produção de celulose com a preservação de áreas nativas e a proteção dos recursos hídricos.

Segundo a Suzano, a água captada para suas produções vêm de fonte diferente da que vai para nossas casas e alimenta nossas florestas. “A Suzano Aracruz capta sua água nas proximidades de foz do rio Doce, e, após a captação, não há mais uso da água, ou seja, é captado um baixíssimo percentual da água do rio doce que vai para o mar. Na prática captamos água próximo a foz do rio doce, utilizamos, tratamos e devolvemos no mar através de emissários subaquáticos”, conta a fabrica. “Essa captação é feita através de um canal, o qual acaba beneficiando também produtores rurais e as comunidades de vila do Riacho e Barra do Riacho, em especial nos períodos de seca. Nos últimos 10 anos reduzimos me 18% nosso consumo de água”, reafirma.

Em sua agenda de sustentabilidade, a fabricante de celulose tem se comprometido a melhorar continuamente sua gestão dos recursos naturais, incluindo água e políticas de reflorestamento, com o objetivo de contribuir para o enfrentamento da crise hídrica no Brasil.

A crise climática e seus impactos nas secas e no desmatamento geram uma pressão cada vez maior sobre empresas como a Suzano, que dependem de recursos naturais para a produção de celulose. “Buscamos a sustentabilidade em todas as nossas operações. Desempenhamos diversas iniciativas, incluindo todo o processo de gestão ambiental e social, procedimentos rigorosos de controle e monitoramento, restauração ecológica, que contribui para a ampliação da cobertura vegetal das regiões em que operamos”, finaliza a Suzano.

Impacto ambiental

Críticos apontam que essas iniciativas ainda são insuficientes para mitigar totalmente os impactos da monocultura de eucalipto. A vegetação nativa, por exemplo, oferece uma série de serviços ecológicos, como a preservação da biodiversidade e a regulação do ciclo da água, serviços que o eucalipto, como espécie exótica, não é capaz de fornecer da mesma forma.

Além disso, o fato de que as grandes plantações de eucalipto ocupam vastas áreas que poderiam ser usadas para preservar florestas nativas ou para promover a agricultura sustentável tem gerado desconfiança em relação aos reais benefícios das políticas de compensação ambiental da Suzano. Veja a seguir, alguns dos principais impactos do plantio de eucalipto:

  • Alteração do solo:
    A plantação intensiva dessa espécie pode resultar em um esgotamento do solo e, consequentemente, à desertificação. O eucalipto, devido à sua capacidade de absorver grandes quantidades de água e nutrientes, pode diminuir a fertilidade do solo, tornando-o mais suscetível à erosão e à compactação.
  • Impacto nos ecossistemas:
    A monocultura de eucalipto pode levar ao empobrecimento da biodiversidade do solo, afetando a microbiota essencial para a saúde do ambiente. Essa substituição reduz a biodiversidade local, uma vez que o eucalipto não oferece o mesmo habitat ou recursos alimentares que as plantas nativas.
  • Reposição por espécie invasora:
    A infiltração de nutrientes do solo também é alterada pela espécie. O eucalipto tende a liberar substâncias químicas no solo que podem dificultar o crescimento de outras plantas, dificultando a recuperação da vegetação nativa após a retirada das plantações.
Plantação de Eucalipto, foto de Tawani Chai

Alternativas Sustentáveis

Apesar desses desafios, há alternativas que visam reduzir os impactos negativos do cultivo de eucalipto. O uso de técnicas de plantio integrado, que combinam o cultivo de eucalipto com outras espécies vegetais, pode ajudar a recuperar a biodiversidade e melhorar a qualidade do solo.

O futuro desse debate dependerá do equilíbrio entre a expansão das florestas plantadas e a preservação dos ecossistemas naturais, bem como da capacidade da Suzano de inovar e se adaptar às demandas de um mundo cada vez mais consciente da importância da sustentabilidade.

O que diz a Suzano?

A Suzano destaca que vem tomando medidas para reduzir os impactos do cultivo de eucalipto no solo e na biodiversidade. “Buscamos a sustentabilidade em todas as nossas operações. Desempenhamos diversas iniciativas, incluindo todo o processo de gestão ambiental e social, procedimentos rigorosos de controle e monitoramento, restauração ecológica, que contribui para a ampliação da cobertura vegetal das regiões em que operamos. Além disso, temos compromissos públicos como os compromissos para renovar a vida, a biodiversidade e a redução da pobreza”, frisa a empresa. Confira o pronunciamento da fabricante de celulose a seguir:

Pioneira na produção de celulose em escala industrial a partir do eucalipto, a Suzano tem décadas de experiência e muito investimento em pesquisa que permitem desenvolver e aprimorar continuamente o manejo sustentável para o cultivo dessa árvore tão importante para produzir itens essenciais de origem renovável, como papel higiênico, lenços de papel e absorventes, embalagens e papéis para imprimir e escrever. Os plantios da empresa são integrados à conservação de florestas nativas, protegendo a biodiversidade, preservando as nascentes e reduzindo riscos como os de assoreamento de rios e de lagos.

Como qualquer outra planta, o eucalipto precisa de água para crescer. No entanto, em seu desenvolvimento, consegue produzir mais madeira com a mesma quantidade de água na comparação com outras espécies. Isso qualifica o eucalipto como uma das plantas mais eficientes na utilização de água para a produção de biomassa.
O cuidado com a água, aliás, faz parte dos Compromissos para Renovar a Vida da Suzano, um conjunto de metas de longo prazo da empresa para cuidar do planeta. No quesito água, a companhia tem o compromisso de aumentar a disponibilidade hídrica em todas as bacias hidrográficas consideradas críticas nas áreas onde atua; e reduzir em 15% a água captada para as operações industriais. Para isso, vem investindo em tecnologias e participando de projetos que promovem a recomposição da vegetação nativa.

É importante destacar que, com o manejo correto, o eucalipto não seca ou empobrece o solo – um exemplo vem das nossas áreas de plantação, que são reutilizadas há várias décadas a cada novo ciclo de plantio. Além disso, o manejo florestal realizado pela Suzano tem bases sustentáveis que conseguem unir a produção de madeira e a conservação de água.

Matéria atualizada em 19 de Fevereiro de 2025

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